Abel Ferreira ficou marcado por seus nove títulos no Palmeiras, resumidos na frase "cabeça fria, coração quente".
O mantra que virou título de livro e símbolo da vitoriosa trajetória do português nas alamedas da Barra Funda tem uma origem curiosa: é a extração de uma frase atribuída a Félix Dzerjinski, o fundador da Tcheka, futura KGB, a polícia secreta da União Soviética.
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O revolucionário socialista dizia: "Um membro da Tcheka deve ter a cabeça fria, o coração quente e as mãos limpas".
Tira-se daqui, dali, e chega-se na mentalidade do português que ergueu campeonato brasileiro nesta quarta-feira. São nove inegáveis grandes títulos em três anos de trabalho. O sucesso e a eficiência da estratégia de Abel é inegável.
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O método extremamente técnico, científico, apaixonado na dose certa e sempre estratégico de Abel teve, ao longo desta trajetória, uma característica: o trabalho tinha direção, planificação e poucas dissidências.
Os que não se encaixaram no projeto - e foram vários no trajeto, como Patrick de Paula, Gabriel Verón, Luiz Adriano - não eram mantidos.
Como um comandante marxista-leninista, minimizou os conflitos internos e assumiu suas posições, como a questão de Breno Lopes, o banco de Endrick e as críticas pela falta de uso da base.
A ideia central do 'somos todos um' - lema que não pegou, mas fez sentido - é que, como dirigente da equipe, Abel recebia as críticas e os louros das conquistas.
O 2023 do Palmeiras é mais ou menos deste jeito: após a eliminação para o Boca, era o "o fim do ciclo" para Abel e "hora de pensar em uma renovação".
Após longa resistência e batalha, Abel voltou favorito ao campeonato e em primeiro lugar. As críticas foram a ele, os louros vão a ele novamente. A blindagem foi testada e funcionou. O centralismo democrático imperou no Palmeiras de Abel, protegendo até Leila, que se beneficia de suas vitórias em campo.
A prática é o critério da verdade, já diriam Marx e Engels. Apesar dos erros e das merecidas críticas, Abel fez três anos sob os mesmos princípios, com os mesmos conceitos e alcançou resultados semelhantes.
Politicamente, soube se colocar como escudo e comprou brigas para defletir as intrigas comuns dos vestiários do futebol brasileiro. No campo, utilizou as estratégias mais reativas e as mais ofensivas a se adaptar contra o adversário. Fez recuos táticos. Avanços lentos no campo de batalha.
Todas as críticas são válidas: a mentalidade colonialista, a síndrome de perseguição e a teimosia fizeram parte de sua trajetória.
Mas, como já dizia o próprio Lênin, "a centralização absoluta e a disciplina rigorosa no proletariado são uma condição essencial da vitória".
Abel venceu.