O polêmico ministro do Interior francês Gérald Darmanin deu uma entrevista ao canal Cnews na última segunda-feira (16) em que acusou o atacante Karim Benzema, ídolo do Real Madrid e da seleção francesa que hoje atua pelo Al-Ittihad da Arábia Saudita, de ter ligações com a Irmandade Muçulmana, organização islâmica sunita criada no Egito que participou da fundação do Hamas em 1987.
Uma manifestação do atleta nas redes sociais em favor do povo palestino e contra as violações de direitos humanos de Israel na Faixa de Gaza foi o que o colocou no radar do político.
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“Todas as nossas orações para os habitantes de Gaza, vítimas mais uma vez desses bombardeios injustos que não poupam nem mulheres e nem crianças”, escreveu Benzema.
Darmanin, que é do partido de Emmanuel Macon (Renascimento) e tem livros publicados sobre movimentos políticos islâmicos, disse que Benzema estaria a anos pregando uma versão dura da religião muçulmana, que o faria pregar a colegas e nas redes sociais, além de se recusar a cantar o hino nacional francês quando solicitado em jogos da seleção.
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Mas o ministro não lá uma pessoa moderada e já foi pivô de outras acusações infundadas. Na final da Champions League de 2022, jogada em Paris entre Liverpool e Real Madrid, Darmanin acusou os torcedores ingleses por uma enorme confusão antes da partida. Ele era um dos responsáveis pela segurança das ruas da capital da França naquela data e no final das contas uma apuração da UEFA apontou falhas na segurança do evento.
Benzema foi campeão pelo Real naquela ocasião e eleito o melhor do mundo daquela temporada.
Dessa vez, após as declarações contra o atacante, a senadora Valérie Boyer, do partido Os Republicanos, de direita, ameaçou retirar a nacionalidade francesa do atleta caso a conexão fosse comprovada. Benzema é nascido em Lyon, na França, mas sua família é argelina. A Argélia, por sua vez, além de ser um país muçulmano no Norte da África, também foi colonizado pela França e empreendeu uma dura guerra anticolonial para se tornar independente.
Ao tomar ciência da acusação, Benzema acionou seus advogados que foram à imprensa fazer um pronunciamento. Além de negar qualquer vínculo com a Irmandade Islâmica, o atleta também estuda processar o ministro.
“Isso é falso! Karim Benzema nunca teve o menor relacionamento com essa organização. Estamos mais uma vez testemunhando uma instrumentalização intolerável de Karim Benzema e da figura simbólica que costuma ser atribuída a ele. (...) Orar em 15 de outubro pelas populações civis sob bombas que não poupam mulheres e crianças não constitui, evidentemente, nem 'propaganda para o Hamas', nem 'cumplicidade com o terrorismo', nem atos de colaboração”, declarou o advogado Hugues Vigier.
Diante da resposta do atleta e da falta de elementos concretos para sua acusação, Darmanin teve que dar um passo atrás. Nesta quinta-feira (19) ele afirmou que retira as acusações, mas aproveitou a deixa para criticar Benzema uma vez mais, exigindo uma espécie de obediência moral do futebolista.
"Se Benzema quiser mostrar sua boa fé, que é capaz de mostrar em poucos minutos às 20 milhões de pessoas que o seguem, dirá que lamenta igualmente a morte deste professor [referindo-se a um israelense morto em 7 de outubro], retirarei minhas palavras", disse o ministro ao canal BFMTV.