LEVANTAMENTO

O que há em comum entre os mais de 60% dos candidatos que concorrem no segundo turno

Partidos como PSD, PL, MDB, União Brasil concentram maioria das candidaturas masculinas brancas, o que corresponde a só 20% da distribuição demográfica do país

Imagem ilustrativa.Créditos: Reprodução/Canva
Escrito en ELEIÇÕES 2024 - APURAÇÃO el

A distribuição demográfica do Brasil não é refletida pela predominância de homens brancos entre os candidatos do segundo turno nestas eleições, mais uma vez. Embora esse grupo seja 65% dos postulantes, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a representação na população brasileira é de apenas cerca de 25%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, é como se as minorias praticamente não tivessem o espaço.

Na análise de raça e gênero em um cruzamento de dados feito pela Fórum, dos 102 candidatos que avançaram para a segunda etapa do pleito de 2024, 67 são homens brancos, com idades variando entre 25 e 80 anos. Nas 15 capitais onde vai ocorrer o segundo turno, os homens brancos dominam a disputa e representam em torno de 60% dos candidatos. No primeiro turno, todos os 11 prefeitos eleitos nessas capitais foram homens, sendo nove brancos e dois pardos. 

Com 14 candidatos brancos, o PL ocupa a liderança, seguido por União, MDB e PSD, com sete candidatos cada. Juntos formam 35 das candidaturas masculinas brancas. O PT conta com nove no segundo turno. No total, as demais candidaturas masculinas incluem 17 homens pardos, dois pretos e um amarelo. Nos 51 municípios que terão segundo turno, a distribuição de gênero revela a presença de apenas 15 mulheres candidatas: dez delas são brancas, quatro são pardas e uma é preta. 

A única mulher autodeclarada preta na disputa é Janad Valcari (TO), que concorre à prefeitura de Palmas. Esse é um reflexo da sub-representação feminina nas eleições para as prefeituras, especialmente considerando que as mulheres representam 51% da população, conforme dados do IBGE.

Subrepresentatividade

Com somente 15% das candidatas na reta final, mulheres ainda foram o maior alvo, recebendo 68,2% das ofensas machistas durante debates, como mostrou uma matéria da Fórum neste sábado (26). Entre as candidatas que mais sofreram ataques de ódio na campanha nessa reta final, estão as deputadas Maria do Rosário (PT-RS) e Natália Bonavides (PT-RN). 

Ao todo, 13 cidades brasileiras, sendo sete capitais, têm mulheres disputando o cargo de prefeita. Em cinco capitais – Curitiba, Campo Grande, Porto Alegre, Natal e Porto Velho – foram analisados os debates transmitidos no YouTube pelo Instituto AzMina. Alvos de insultos e ataques misóginos, as candidatas enfrentam um ódio que vai muito além das críticas do campo político, evidenciado 68,2% dos comentários ofensivos que receberam até aqui. Entenda mais sobre o estudo.

Cota eleitoral

A cientista política Ana Prestes, durante participação do Fórum Café do dia 8 de outubro (veja o vídeo abaixo), comentou que as políticas de cotas, que exigem que 30% das candidaturas sejam de mulheres, têm mostrado efeitos limitados. A medida que mais impactou a eleição de mulheres no Brasil foi a destinação de 30% do fundo eleitoral para candidaturas femininas. Ainda assim, muitas candidatas relatam falta de clareza sobre a distribuição desses recursos dentro dos partidos e federações. Muitas não têm conhecimento de como o dinheiro é alocado ou se realmente recebem a verba de maneira adequada, o que gera reclamações recorrentes sobre transparência nesse processo.

Outro dado preocupante, ressaltou Ana, é o descumprimento das cotas de gênero por parte de partidos políticos em mais de 700 municípios brasileiros, segundo levantamento do Observatório Nacional da Mulher na Política. Apesar disso, em 4.797 municípios, todos os partidos respeitaram a cota, representando uma leve melhora em relação a anos anteriores. Ana destacou no programa que as mulheres na política enfrentam desafios em diversas fases de suas carreiras. Desde o momento em que se candidatam, passando pela eleição, até o exercício do mandato, elas lidam com uma série de violências que vão desde manipulações psicológicas, como gaslighting mansplaining, até ataques mais graves.