Em meio à guerra comercial, que já fez com que os EUA tomassem a exploração das jazidas de minerais raros na Ucrânia, Donald Trump recebeu de grandes companhias do país uma lista de áreas que têm interesse em avançar no Brasil.
Informações divulgadas por Jamil Chade, no portal Uol, revelam que os EUA preparam uma ofensiva neoliberal sobre setores importantes essenciais no Brasil, como as telecomunicações e a Saúde, especialmente as patentes de medicamentos, desenvolvidos em parte com matéria-prima disponível na vasta diversidade ambiental da Amazônia e outros biomas brasileiros.
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Um relatório com as demandas do setor privado dos EUA foi protocolado no Escritório de Comércio da Casa Branca (USTR, sigla em inglês) no dia 11 de março.
O documento foi apresentando antes que Trump inicie um novo levante da guerra comercial, que mira novas taxações ao Brasil.
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Na lista, as companhias estadunidenses pedem que haja pressão do governo dos EUA para "mais acordos de abertura de mercados", em uma nova rodada de avanço das políticas neoliberais, descritas no consenso de Washington.
Com críticas ao que considera "atrasos regulatórios" da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a indústria da Saúde dos EUA quer que o órgão brasileiro estabeleça "acordos de reconhecimento mútuo com a FDA dos EUA para superar os obstáculos regulatórios e melhorar o acesso ao mercado para as empresas americanas".
Já a indústria farmacêutica quer avançar sobre um dos negócios mais rentáveis - e onerosos para a população: a propriedade intelectual sobre novos fármacos.
"As alterações na lei de propriedade intelectual do Brasil são cruciais para reduzir os atrasos nos exames e permitir ajustes proporcionais aos termos da patente em casos de atrasos excessivos não causados pelos requerentes", diz o texto.
A indústria farmacêutica ainda sinaliza que vai incrementar ainda mais o lobby no legislativo - que tem no bolsonarismo seus principais representantes - ao afirmar que "o Brasil também deve implementar mecanismos legais para pesquisas farmacêuticos e alinhar os padrões de propriedade intelectual com as melhores práticas internacionais, garantindo que as regras de licenciamento compulsório sejam compatíveis com as obrigações da OMC".
Telecom
Após investida no governo Jair Bolsonaro (PL) para avançar com a Starlink nas telecomunicações do Brasil, o atual secretário de "eficiência governamental" de Trump, Elon Musk, conta com o lobby do setor nos EUA para um novo levante no país, agora sob a gestão Lula.
Na carta a Trump, os representantes do setor reclamam das "inúmeras exigências regulatórias onerosas às empresas que operam no setor de telecomunicações".
"A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não aceita dados de teste gerados fora do Brasil, exceto em casos limitados em que o equipamento é fisicamente muito grande ou caro para ser transportado. Isso exige que quase todos os testes de equipamentos de TI/telecomunicação - incluindo telefones celulares e cabos ópticos - sejam realizados no Brasil, o que gera aumento de custos e atrasos", diz o texto.
Na "recomendação", o setor privado dos EUA também contam com o lobby de parlamentares entreguistas para derrubar barreiras regulatórias que, segundo eles, "criam obstáculos desnecessários à entrada no mercado, atrasam o tempo de colocação no mercado dos produtos dos EUA e aumentam os custos para as empresas que exportam para o Brasil".
Etanol
No documento, as empresas ainda pedem pressão de Trump para que o Brasil reduza as tarifas de etanol "para garantir a reciprocidade e permitir um acesso justo ao mercado para os produtores dos EUA".
Produzido de forma mais cara, geralmente a partir da beterraba, o etanol dos EUA teria uma taxação de 18% para entrar no mercado brasileiro, enquanto o álcool brasileiro, à base de cana de açúcar, paga tarifa de 2,5%.
"Além disso, os produtores brasileiros se beneficiam do acesso aos programas dos EUA, como o Renewable Fuels Standard
e o Low Carbon Fuel Standard da Califórnia, enquanto o etanol dos EUA não tem acesso ao programa RenovaBio do Brasil", dizem as empresas sobre programas de sustentabilidade nos EUA.
Na carta ainda há reclamação sobre o sistema tributário brasileiro - "um dos mais complexos do mundo " - e pede pressão para redução de "encargos administrativos das empresas à medida que a reforma tributária for implementada".
Essa é uma das principais bandeiras neoliberais levantadas pela mídia alinhada aos interesses das transnacionais, como o grupo Globo, no país.