FÓRUM ONZE E MEIA

Ricardo Cappelli: "Não há nada que justifique continuar a trajetória da alta de juros no Brasil"

Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial afirma que aumento das taxas de juros ajuda a desestimular investimento da indústria no país

Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.Créditos: Tom Costa/MJSP
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Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (10), o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, analisou o cenário econômico do Brasil com foco nas taxas de juros e na industrialização do país. O ex- ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República criticou a alta dos juros, argumentando que esse cenário ajuda a desestimular o investimento industrial no Brasil. 

Apesar da indústria viver um momento "muito positivo", de acordo com Cappelli, o patamar dos juros atualmente atua na contramão desse avanço. "Os juros, no patamar que estão, são um fator de desestímulo muito grande para o investimento na indústria no Brasil", afirmou. O presidente da ABDI acrescentou que a indústria é intensiva de capital, necessitando de financiamento, mas que com o patamar da Selic, hoje, se torna "impossível" viabilizar esse investimento. 

No entanto, Cappelli acredita que os juros irão reduzir este ano, ampliando "ainda mais esse ciclo de retomada da indústria brasileira". 

Em relação à especulação de que a Selic pode chegar a 15%, o gestor afirmou que não consegue encontrar fundamentos técnicos e macroeconômicos para que o Banco Central conduza a taxa a esse valor. "A gente está vendo o dólar agora e são mais de dez quedas sucessivas mostrando que aquele movimento de elevar o dólar para mais de R$ 6,20 era um movimento especulativo sem base na realidade. O Brasil tem condições macroeconômicas sólidas, mais de R$ 360 bilhões de reservas. O déficit está surpreendendo todo mundo com o trabalho espetacular conduzido pelo ministro Fernando Haddad, se não for zero, vai ficar muito próximo de zero. Então, onde é que está o desequilíbrio estrutural da economia brasileira que justifique você continuar subindo juros?", questionou Cappelli. 

Em relação à alta de preço nos alimentos, Cappelli destacou a influência das mudanças climáticas e questões relacionadas à quebra de safra em outros países, como nos Estados Unidos com a produção de laranja e outros que cultivam café, mas ressaltou que subir os juros "não vai resolver nada disso". 

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"Subir a taxa de juros só vai estimular a migração do capital para o investimento no setor produtivo para o rentismo parasitário, que é dinheiro gerando dinheiro sem gerar um posto de trabalho. Então, na minha opinião, não há nada que justifique continuar essa trajetória de alta do juros no Brasil", defendeu. 

O presidente da ABDI ainda pontuou que há muita pressão em cima dessa elevação nos juros e cita, por exemplo, o lucro histórico divulgado pelo banco BTG Pactual em relação a 2024. "Mais de 12 bilhões de reais de lucro, lucrando mais de um bilhão por mês, gente. Como é que a gente constrói um país desse jeito, que quem ganha dinheiro é quem está na especulação, no rentismo, é quem está vivendo de juros extorsivos no Brasil? E quem produz, quanto ganha? Cadê o lucro bilionário de quem produz, quem acorda cedo para trabalhar, de quem monta o seu pequeno negócio?", questionou.

"Isso precisa ser revertido no Brasil e só vai ser enfrentado com a gente tendo coragem para enfrentar o rentismo e para reduzir essa taxa de juros", afirmou Cappelli. 

Industrialização

Cappelli também afirmou que a industrialização vive um momento "muito positivo" no Brasil como consequência da retomada de investimento no setor pelo presidente Lula (PT). 

"Isso é muito importante. O salário médio, no agro, varia entre R$ 1.500 e R$ 2.500. Já o salário médio na indústria química é de R$ 7.000. Então, quando você fala de indústria, você fala de consolidação de postos mais qualificados, de uma classe média, de um valor aquisitivo maior. Então, isso é muito importante", avaliou.

"Não existe país desenvolvido, próspero, soberania e ativo sem uma indústria forte. E a gente conseguiu agora no governo do presidente Lula, com o lançamento da Nova Indústria Brasil, lançada por ele pelo nosso ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin, reverter uma tendência que era de recuo da indústria que vinha acontecendo nos últimos sete e oito anos", explicou Cappelli.

Ele destacou que ainda há muito trabalho pela frente, mas cita alguns dados para mostrar o avanço da indústria nos últimos dois anos. "Por exemplo, no setor automotivo, as vendas de automóveis cresceram no ano passado no Brasil 15%. Foi o maior crescimento relativo do planeta. Só no setor automotivo, nós geramos, no ano passado, mais de 60 mil empregos formais".

Além disso, foi anunciado até 2028, também no setor automotivo, investimentos de R$ 130 bilhões. "É o maior ciclo de investimentos da indústria automotiva da história do Brasil. Vamos lembrar que, até pouco tempo atrás, o que a gente estava vendo era a Ford indo embora do Brasil. Eram montadoras discutindo fechar plantas no Brasil", relembrou Cappelli.

"E o que a gente está vendo agora é não só essas montadoras retomarem investimentos, como também a atração de novas montadoras para o Brasil. A gente pode falar da planta da BYD na Bahia, da planta da GWM em São Paulo. Então, veja, você tem um movimento de retomada. Isso é por acaso? Não. É porque a gente lançou o Plano Mais Produção, que juntando todos os bancos públicos disponibilizou mais de R$ 500 bilhões em crédito para a indústria.

O presidente da ABDI ainda cita outros avanços na indústria e reforça que ainda há desafios, como a diversificação do nosso parque industrial através do desenvolvimento de setores que estão na fronteira do conhecimento. 

"Esse é o nosso desafio: não só renovar e estimular o investimento em setores que tradicionalmente têm presença no Brasil, mas também abrir novas fronteiras. Esse é um desafio e que eu espero que a gente consiga realizar este ano com o Banco Central reduzindo juros", defendeu. 

Confira a entrevista completa de Ricardo Cappelli ao Fórum Onze e Meia 

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