O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), instituição ainda presidida pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, deve contrariar os apelos feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e decidir, nesta quarta-feira (18), pelo aumento da taxa básica de juros (Selic).
Os integrantes do Copom se reúnem no final da tarde para deliberar sobre o tema e, se de fato as projeções do mercado estiverem corretas, a Selic deve subir dos atuais 10,50% para 10,75% – tratando-se do primeiro aumento dos juros desde o início do governo Lula.
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O aumento representaria uma interrupção do clico de queda que vinha se observando desde agosto de 2023, quando a Selic foi reajustada de 13,75% para 13,25%. A partir daquele mês, o índice foi caindo gradativamente, até estagnar, a partir de maio deste ano, nos atuais 10,50%.
A taxa de juros brasileira segue sendo uma das mais altas do mundo e, segundo especialistas, um novo aumento seria injustificável, visto que a economia do Brasil está aquecida e a inflação controlada. A expectativa do mercado financeiro é que o Copom siga aumentando a taxa de juros até, pelo menos, metade de 2025.
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Presidido atualmente por Campos Neto, que segundo o presidente Lula "trabalha para prejudicar o país" com a atual política de juros, o BC deverá ser comandado, a partir do ano que vem, por Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária da instituição e ex-braço direito de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.
Gleisi: única decisão sensata é reduzir juros
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais nesta terça-feira (17) para criticar uma possível elevação da taxa básica de juros.
Uma das maiores críticas da atual política encampada pelo BC com relação à Selic, Gleisi afirma que "a única decisão sensata que o Copom pode tomar amanhã é reduzir a taxa básica de juros".
"No mundo capitalista inteiro os juros estão caindo, por que aqui seria diferente?", questiona a parlamentar.
Segundo Gleisi, "aumentar 0,25 ponto na taxa Selic, como exige o mercado, custaria mais R$ 1 bi por mês. São esses juros, pagos aos banqueiros, que de fato pressionam o equilíbrio fiscal de que tanto falam. E é o dinheiro que falta para enfrentar emergências, por exemplo".
"Risco de inflação também não é razão para subir juros. Ela está sob controle e nas margens da meta. Expectativa de aumento de preços por desastres naturais não se enfrenta com juros, nem mesmo pela cartilha dos neoliberais", prossegue a parlamentar.
"A maior taxa de juros reais do planeta é hoje o maior obstáculo ao crescimento da economia e ao bem-estar da população. Por mais 'autônomo' que pretenda ser, o BC não pode submeter o país e o povo à ganância dos rentistas", finaliza.
O recado de Alckmin a Campos Neto
Dados divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) passou de 0,38% em julho para -0,02% em agosto. Com isso, o Brasil registrou deflação no mês, ou seja, houve queda nos preços.
No ano, o IPCA acumula alta de 2,85% e, nos últimos 12 meses, de 4,24%, abaixo dos 4,50% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2023, a variação havia sido de 0,23%.
Diante de tal cenário, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria e Comércio, mandou um recado para o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. "Cai com a inflação a razão para subir juros", declarou Alckmin ao UOL.
A fala do vice-presidente tem como contexto uma expectativa do mercado de que o BC aumente a taxa básica de juros (Selic) entre 0,25% e 0,50%. Com os dados divulgados do IPCA, deve aumentar a pressão para que a Selic não seja aumentada.
Em agosto, ao participar do Congresso Aço Brasil, Alckmin já havia disparado contra a atual política de juros do BC.
"Não tem justificativa [a manutenção da Selic a 10,5%]. Temos a segunda maior taxa de juro real do mundo e só perde para a Rússia, que está em guerra", afirmou.
"O mercado internacional enfrenta um grande estresse que deve ser passageiro. O Brasil tem a 6ª maior população do mundo, um mercado interno forte, amanhã sai o balanço das exportações de janeiro a julho com recorde. Temos reservas cambiais, e vejo com otimismo que a política fiscal será cumprida. Por isso, não tem razão o Brasil ter a segunda maior taxa de juro real do mundo. Isso atrapalha muito", pontuou ainda.