Uma notícia veiculada pela jornalista Mônica Bergamo causou uma certa perplexidade, mas não muitas surpresas: o apresentador Luciano Huck, que apoiou Aécio Neves (PSDB) e Bolsonaro (PL) à presidência da república, em 2014 e 2018, respectivamente, organizou um jantar que reuniu Campos Neto, presidente do BC indicado por Bolsonaro, e Tarcísio de Freitas, ex-ministro do governo anterior e atual governador de São Paulo.
Como sempre, Luciano Huck correu para minimizar o teor político do jantar e classificou o encontro com duas proeminentes figuras do bolsonarismo como "conversa entre amigos". Mas, será possível acreditar que um encontro desse não possui caráter político?
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Quem traz a resposta é a economista Maria da Conceição Tavares, atualmente onipresente a partir de trechos de vídeos com gravações de suas aulas. Como se sabe, Conceição segue uma linha socialista para pensar as políticas econômicas, ou seja, não acumulativas e distributivas e com foco na justiça social.
E um dos vídeos de Conceição Tavares responde a pergunta feita acima: um jantar da elite financeira possui caráter político?
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"Só faz de conta que a política não interessa quem manda, meu bem. E Deus sabe que a política interessa muito. O problema é que ele disfarça o seu interesse político. Ele faz em câmaras secretas. Ele faz, aí sim, em chás, em almoços [...] mas não se trata de ser ostentatório, podemos fazer no jantar das sextas-feiras.
"Nós não podemos resolver nos jantares das sextas-feiras. Nós não somos da elite dominante desse país. Por mais que alguns de vocês tenham alguma pretensão a ser, sei que alguns têm, eu não tenho”, conclui Conceição Tavares.
Confira a íntegra do pensamento de Conceição Tavares no vídeo abaixo:
Luciano Huck, Campos Neto e Tarcísio em jantar
Enquanto a Globo eleva o tom contra o governo Lula nos últimos meses - especialmente após o início do genocídio sionista em Gaza, em outubro passado -, o apresentador Luciano Huck ofereceu na noite desta sexta-feira (17) um jantar em que reuniu nomes como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
No entanto, o timing do apresentador coincide com um novo atrito entre o governo Lula e Campos Neto sobre a taxa Selic - que baixou de 10,75% para 10,5%, enquanto era esperada redução de 0,5% - e as críticas crescentes da Globo, cada vez mais alinhada ao bolsonarismo, ao presidente petista.
Tarcísio, que é visto com bons olhos pela família Marinho, sequer cumpriu agenda como governador após voltar dos EUA, onde participou de encontros de investidores promovidos pelo Itau e pelo BTG Pactual para buscar compradores para a venda da Sabesp e outras 44 autarquias públicas que planeja colocar em leilão até o final de 2026.
Em comum, Huck, Campos Neto, Tarcísio e a Globo apostam em uma alternativa mais alinhada aos interesses do sistema financeiro neoliberal para enfrentar a tentativa de reeleição de Lula.
Aliança antiga
A aliança entre Huck e os neoliberais que se alinharam ao neofascismo de Jair Bolsonaro a partir de 2018 não é nova.
Huck nunca escondeu suas pretensões de disputar a Presidência da República e o primeiro entusiasta para que ele colocasse seu nome como candidato ao Planalto foi justamente Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PL), em 2016.
Guedes, fundador do banco BTG, foi apresentado a Huck pela filha, Paula Drumond Guedes, amiga pessoal do apresentador, antes de ser o avalista neoliberal da Globo - com quem divide as cadeiras do Instituto Millenium - para a eleição de Bolsonaro.
"É verdade que pesquisas de minha filha me levaram a Luciano Huck no primeiro trimestre de 2016", comentou sucintamente ao Valor Econômico, do grupo Globo, em 2017.
Em 2021, Huck chegou a figurar entre os pré-candidatos da "terceira via", mas desistiu da empreitada por questões financeiras, já que tem um faturamento astronômico ligado a Globo.