Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, cometeu um verdadeiro ‘sincericídio’ nesta sexta-feira (5) quando comentou os sucessivos erros de economistas ligados ao mercado financeiro em relação às projeções do PIB potencial brasileiro. A fala foi feita em evento realizado em São Paulo.
Campos Neto era questionado a respeito do papel que “inovações financeiras” poderiam ter no crescimento do PIB potencial brasileiro. O termo, “PIB potencial”, se refere ao produto interno bruto em tempos de crescimento e prevê a utilização de todos os recursos econômicos de um país, excluindo eventual pressão inflacionária.
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Em sua resposta, o presidente do Banco Central afirmou que não há estudos que façam uma correlação entre as supostas “inovações financeiras” e o crescimento do PIB potencial.
“Na verdade, a gente, os economistas, vêm errando quase tudo de PIB há três anos, não sei porque alguém ainda acredita no que a gente fala. Mas o fato é, dado que você está errando há três anos, tem de se perguntar: existe algum componente estrutural no meu erro?”, comentou.
Campos Neto defende que haja uma relação entre a intermediação financeira e o aumento do PIB potencial, ainda que não tenham estudos nesse sentido. O que se sabe, é que o aumento da produtividade - e consequentemente do consumo - podem contribuir.
Um exemplo que o presidente do BC deu no evento foi em relação a velocidade que empresas abrem e fecham no país. Ele aponta que as inovações financeiras que permitiram uma maior agilidade na abertura de empresas – antes em torno de quatro ou cinco meses e hoje em questão de dias – pode ser um indicador.
O argumento é bom, mas logo foi derrubado pelo exemplo seguinte. Campos Neto defendeu a “flexibilização das contratações”, promovida pela reforma trabalhista de Michel Temer, como um fator que agilizou o aumento da produtividade. Esqueceu-se de um detalhe: o trabalhador. É de conhecimento público que os salários caíram nas últimas décadas em todo o mundo e, no Brasil pós-reforma trabalhista, esse movimento se acentuou com a inundação da terceirização e do trabalho por aplicativo.
Nesse sentido, uma piora pode ser registrada no PIB, uma vez que as famílias terão menos recursos para consumir. É por essa razão que o Governo Lula promove seus programas sociais. A melhora na vida econômica das famílias, que consomem tudo o que ganham – afinal, quem retêm capital são os muito ricos – também vai representar melhoras nos índices macroeconômicos. Eis o "componente estrutural".
Sobre o PIB, o governo projeto um aumento de 2% enquanto muitos dos ditos “especialistas”, comumente estampados na mídia hereditária, têm feito projeções de 1,5% a 1,9%. Talvez seja o momento de concordar com Campos Neto e não acreditar nessas projeções.