João Paulo Pacífico foi o único brasileiro de um grupo de milionários de diversos países a ter seu nome em um abaixo-assinado entregue ao Fórum Econômico Mundial com um pedido inusitado: serem mais taxados.
A carta do movimento, chamada "Proud to pay more" (Orgulho de pagar mais, em português), afirma:
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“Nosso pedido é simples: pedimos que nos taxem, os mais ricos da sociedade. Isto não irá alterar fundamentalmente o nosso nível de vida, privar os nossos filhos ou prejudicar o crescimento econômico dos nossos países. Mas transformará a riqueza privada extrema e improdutiva em um investimento para o nosso futuro democrático comum.”
Em entrevista à Época Negócios, Pacífico deixou em claro a que veio: “eu entendo a importância do Estado de dar dignidade, ter boas escolas públicas, um SUS forte e programas de assistencialismo, como o Bolsa Família. E o dinheiro do Estado vem de onde? Da contribuição das pessoas. Só que hoje quem tem mais paga menos impostos e quem tem menos paga mais impostos. O assalariado CLT é quem mais paga imposto no Brasil. Eu me posiciono contra isso sempre.”
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Chantagem
“Tem gente que fala ‘ah, mas se pagar mais impostos, o cara vai sair do Brasil’. Na verdade, ele pode até tirar, mas se ele ganha dinheiro aqui, tem que tributar. E eu acho que isso é uma chantagem. Quando uma pessoa rica fala que é contra a taxação de grandes fortunas, se não ela vai tirar o dinheiro do Brasil, além de ser egoísta, é chantagista. É um jogo feio que essas pessoas fazem”, disse ainda.
Paulo ascendeu no mercado financeiro, chegando a ter uma securitizadora, a Gaia, que alcançou faturamento de mais de R$ 16 bilhões sob gestão. Após entrar em contato com o terceiro setor, deu uma guinada na sua vida.
“A Gaia começou a se envolver em operações financeiras que causassem impacto. Então, fizemos uma primeira operação para financiar a reforma de casas na favela. Depois, fomos expandindo, até que encontramos o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra] e o trabalho da reforma agrária”, diz.
Aversão ao MST
Pacífico diz ainda que “por ignorância ou desconhecimento, há uma aversão ao MST. Eu convido quem quiser do mercado financeiro a conhecer um assentamento comigo e ver se essa pessoa não vai mudar de opinião. Se ela tiver coração, ela vai mudar de opinião. As pessoas não entendem a importância da reforma agrária nos países. O Japão fez, os Estados Unidos fizeram e o Brasil tem que ter reforma agrária. Ela é uma solução social e econômica para o país. Gera emprego, renda e comida”.
“Eu sou uma pessoa que saiu de um lugar de privilégio - por ser um homem, branco, hétero e cisgênero - e que foi reconhecendo esses seus privilégios e agindo para que outras pessoas também tenham acesso a tudo que eu tenho. Mas eu entendi que a meritocracia não existe. Portanto, eu quero usar esses meus privilégios para ajudar as pessoas que não têm, e não porque eu sou melhor do que elas. Simplesmente porque eu estou na frente na corrida, porque me colocaram lá. Eu não escolhi estar lá na frente”, afirma.
Sobre as diferenças entre doação privada e maior cobrança de impostos, Pacífico é bem claro:
“É como se você privatizasse a decisão do destino do dinheiro. De repente, aquela pessoa muito rica, que teve um problema com câncer, vai doar o dinheiro para a causa do câncer. Mas e as doenças que mais acometem as pessoas pobres? Alguém vai doar? A solução fiscal é absolutamente importante porque o Estado tem por obrigação constitucional prover o bem-estar para toda a população, não diferenciando o paulistano do nordestino, por exemplo. Quando você paga os tributos, a responsabilidade de gerir isso passa a ser do Estado”, conclui.
Com informações da Época Negócios