TRABALHO DE CUIDADO

Trabalho invisível e não pago às mulheres subsidia economia em valores três vezes maiores que big techs

Informação está no relatório da Oxfam, em capítulo que aponta quatro fatores com que poucas corporações adquirem muito poder às custas de aumentar desigualdades; Saiba quais são

Mulher cuida de criança.Créditos: Freepik
Escrito en ECONOMIA el

O relatório Desigualdade S.A., divulgado nesta segunda-feira (15) pela Oxfam, tem como objetivo mostrar como os bilionários e suas corporações manobram as democracias, se beneficiam economicamente e dividem o planeta. Os dados publicados são assustadores. De 2020 pra cá, os cinco homens mais ricos do mundo dobraram suas riquezas enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres. Outro dado interessante diz respeito ao subsídio que a chamada “economia do cuidado” dá à economia mundial, amplamente controlada por esses magnatas.

Os trabalhos que envolvem a chamada “economia do cuidado” são chamados de “trabalhos invisíveis” pois em grande medida não são remunerados. Trata-se de trabalho doméstico – limpeza, cozinha etc - e de cuidado com crianças, idosos, doentes, entre outros. Em sua maioria realizados por mulheres e meninas, sua não remuneração impacta de forma substantiva nas desigualdades de gênero e na precarização verificada nas últimas décadas no mundo do trabalho. Além disso, também é notável a informação contida no relatório, de que boa parte dessa grana sempre acaba, de uma forma ou de outra, nos bolsos dos barões do mercado financeiro que detêm ações das principais corporações.

Segundo estimativas da entidade, seriam cerca de 10 trilhões de dólares anuais e em todo o planeta não pagos para as pessoas que realizam tais trabalhos "invisíveis". São quase R$ 50 trilhões, e cerca de 6,25 vezes o PIB brasileiro. A Oxfam ainda aponta que o montante subsidia a economia mundial em valores três vezes maiores do que os 3,2 trilhões de dólares anuais das big techs e da indústria de alta tecnologia.

A informação consta no terceiro capítulo do relatório, intitulado “Como o poder das grandes empresas alimenta as desigualdades”. Ao longo das páginas, expõe quatro quatro fatores que fazem com que poucas corporações adquirem muito poder às custas de aumentar desigualdades: pressão sobre trabalhadores enquanto recompensa os ricos, sonegação de impostos e tributos, privatizações de estatais e favorecimento do colapso climático.

“As últimas décadas foram cruéis para muitos trabalhadores no mundo. Elas foram caracterizadas por uma corrida para nivelar por baixo e pelo trabalho muitas vezes mal remunerado, precário e perigoso. Este capítulo descreve como as pessoas que participam das cadeias de valor globais, principalmente mulheres e pessoas discriminadas e excluídas por raça e etnia recebem salários de fome e enfrentam desrespeito generalizado a seus direitos e péssimas condições de trabalho, enquanto as empresas usam a sua influência para garantir políticas trabalhistas favoráveis. Essas circunstâncias terríveis geraram lucros sem precedentes para grandes empresas, remunerações fantásticas para uma elite de executivos e muita riqueza para os acionistas. Em vez de investir em salários mais elevados e melhores condições de trabalho (como políticas que dariam apoio mais eficaz às responsabilidades de cuidado), empresas poderosas optaram por enriquecer seus proprietários, um grupo que, como mostra este relatório, é desproporcionalmente ultrarrico e vive no Norte Global”, diz trecho introdutório do capítulo.

Entre os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores está a baixa remuneração, resultado do enfraquecimento dos sindicatos e da crescente influência das empresas - e dos magnatas financeiros - sobre políticas e leis trabalhistas.

“O lobby empresarial tem sido associado a restrições políticas sobre a sindicalização, à oposição ao combate ao trabalho forçado, à luta contra os aumentos do salário mínimo, aos retrocessos nas leis sobre trabalho infantil, às reformas que prejudicam os direitos trabalhistas e aos esforços para enfraquecer as regras que protegem a saúde e a segurança dos trabalhadores. Por exemplo, os lobistas das empresas na União Europeia teriam procurado aumentar o acesso ao mercado de pesticidas no Brasil, apesar dos riscos conhecidos para os trabalhadores agrícolas”, diz a Oxfam.

A entidade também aponta que esses valores subtraídos da remuneração dos trabalhadores e dos direitos trabalhistas de maneira geral têm sido revertidos para acionistas e executivos. Para cada 100 dólares de lucro gerado pelas 96 maiores empresas do mundo, 82 dólares voltam para os acionistas como recompra de ações e dividendos.

“A Oxfam estima que, se o montante que as empresas gastaram em dividendos e recompras de ações para os 10% mais ricos em 2022 fosse redistribuído aos 40% mais pobres em termos de renda, a desigualdade global medida pelo índice Palma poderia diminuir em 21,5% – o equivalente à queda real observada nesse índice ao longo de 41 anos. Além disso, metade do valor pago aos 10% mais ricos em 2022 já poderia acabar com a pobreza global (definida como 6,85 dólares por dia, PPC 2017), e 1,6% dos pagamentos já conseguiria eliminar a pobreza extrema, conforme definido pelo Banco Mundial. (2,15 dólares por dia, PPC 2017)”, diz o relatório.

Veja os principais dados e leia o estudo na íntegra.