Foi divulgado nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou um crescimento de 1,9% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao trimestre anterior. Em comparação com o mesmo trimestre de 2022 (governo Bolsonaro), o PIB apresentou um crescimento de 4%.
Além disso, no acumulado dos quatro trimestres encerrados em março de 2023, o PIB teve um aumento de 3,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, de acordo com os dados divulgados pelo IBGE.
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O PIB, que é a soma dos bens e serviços finais produzidos pelo Brasil, alcançou o valor de R$ 2,6 trilhões em valores correntes. O resultado positivo do PIB foi impulsionado principalmente pelo setor agropecuário, que teve um crescimento de 21,6%, a maior alta desde o quarto trimestre de 1996. Além da agropecuária, os setores de indústrias extrativas (0,23%) e Eletricidade e gás (1,7%) também apresentaram crescimento.
Em entrevista à Fórum, o economista Marcio Pochmann, da Unicamp, afirmou que os números apresentados pelo IBGE sobre o PIB são surpreendentes e, por enquanto, afastam o temor de uma recessão iminente. Ele também destacou que o presidente Lula acertou nas medidas tomadas antes de assumir a presidência ao articular o orçamento para 2023.
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"É politicamente muito importante, pois reafirma uma mudança de rumo em relação ao que vinha acontecendo no ano passado, especialmente no segundo semestre, quando inclusive a variação do PIB do último trimestre registrado apontava um sinal negativo", analisa Marcio Pochmann.
Fórum – Como você avalia o PIB do primeiro trimestre deste ano em 1,9%?
Marcio Pochmann - É politicamente muito importante, pois reafirma uma mudança de rumo em relação ao que vinha acontecendo no ano passado, especialmente no segundo semestre, quando inclusive a variação do PIB do último trimestre registrado apontava um sinal negativo.
Além disso, a proposta orçamentária que havia sido enviada pelo governo passado previa um recurso inferior para 2023 em comparação com 2022. Estima-se uma redução de 150 bilhões. Portanto, as decisões tomadas antes do presidente Lula assumir o cargo, de aprovação da emenda constitucional que ampliava o recurso orçamentário para este ano nesse patamar. Isso permitiu garantir o recebimento de recursos, atendendo à proposta eleitoral já a partir de janeiro, e desconsiderando a necessidade do teto de gastos estabelecido pela Constituição.
Tudo isso gerava insegurança e incerteza no final do ano, em relação ao rumo que seguiríamos: se continuaríamos na trajetória de desaceleração e até mesmo recessão iniciada no governo passado. Os dados revelam o quanto o presidente acertou ao fazer esforços antes de assumir para garantir recursos que, já a partir de janeiro, mantivessem a economia em um rumo diferente.
Portanto, politicamente, vejo isso como positivo, pois reafirma um início relativamente positivo do governo na economia, com uma evidente desaceleração da inflação e uma reação relativamente boa da economia.
Fórum – Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o setor de investimento está estagnado. O governo Lula tem batido nessa tecla, de que é preciso investir e também apostado na política internacional para atrair investimento. É o caminho?
Marcio Pochmann - Apesar de ter sido avaliado positivamente e ter dado um rumo diferente para a economia em relação ao final do ano passado, isso não significa que superamos todos os nossos problemas. A variação do PIB revela, em grande medida, a herança do modelo primário exportador que o Brasil já tinha há algum tempo. Ou seja, o crescimento da economia foi impulsionado principalmente pela produção voltada para a exportação, não para o mercado interno. Esse setor é importante na economia, mas tem um impacto limitado no emprego e na renda interna.
É claro que as divisas resultantes das exportações garantem a possibilidade de não enfrentarmos problemas no balanço de pagamentos e no financiamento das importações, uma vez que o Brasil é um grande importador de bens com maior valor agregado e conteúdo tecnológico. Mas o investimento, que é essencial, é um tema central que precisa ser abordado. A expansão que tivemos foi impulsionada, de um lado, pelo setor de exportações, mas, por outro lado, o consumo das famílias, embora com um leve crescimento, não teve queda. Isso ajudou a ocupar a capacidade ociosa e a impulsionar a atividade econômica. Enquanto essa capacidade não for ocupada, ou pelo menos enquanto não houver expectativa de ocupação, não haverá investimento.
Portanto, esse é um desafio que o governo enfrenta agora, depois desses primeiros cinco meses tentando resolver problemas herdados, para lidar com a retomada do investimento. O objetivo é estabelecer conexões por meio das relações que o presidente possui, abrindo assim um novo cenário de investimento que possa ser conectado aos recursos do setor privado, que atualmente estão disponíveis, mas paralisados financeiramente. Além disso, o próprio governo ainda tem a possibilidade de utilizar suas reservas externas como uma base para financiar o desenvolvimento por meio do banco de investimento.
Fórum - O crescimento do PIB foi puxado pelo setor agropecuário, que registrou crescimento de 21%. É preciso diversificar a economia?
Marcio Pochmann - Eu entendo que o discurso e a preocupação apresentada até agora pelo governo, inclusive algumas orientações formuladas pelo Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, apontam para uma perspectiva que não visa inviabilizar ou condenar o setor agropecuário. Pelo contrário, busca-se permitir que outros setores ganhem dinamismo a partir dele. Isso implica em uma transição de uma economia especializada na produção de bens primários para uma economia diversificada, com outros tipos de produtos, o que pode ampliar o nível de emprego.
Fórum: O crescimento do PIB fortalece politicamente o presidente Lula?
Marcio Pochmann - Dizer que o presidente Lula estava desconectado dos problemas nacionais e preocupado apenas em viajar não é correto. Isso seria uma generalização injusta e simplista. Além disso, apontar a descoordenação política e a dificuldade em aprovar medidas no Congresso como exemplo disso também é uma interpretação reducionista.
É importante reconhecer que a política é um processo complexo, sujeito a diversas variáveis e desafios. O governo enfrenta obstáculos e negociações para avançar com suas propostas, e nem sempre é possível obter resultados imediatos.
O que aconteceu desde quarta (31) [votação da MP dos ministérios na Câmara] pode ser interpretado como um momento em que o governo demonstrou sua força política, seja pela aprovação de medidas importantes, pela superação de impasses ou por outras ações relevantes. No entanto, é preciso ter em mente que a análise política vai além de um único acontecimento e deve considerar uma série de fatores e contextos.