Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (9), o economista Marcio Pochmann declarou que o presidente Lula (PT) está certo em combater a atual política de juros do Banco Central (BC). Pochmann explicou que, caso a atual política seja mantida, economicamente o Brasil pode vivenciar um 2023 pior do que 2022 e isso seria desastroso para o novo governo federal e para a sociedade brasileira. Sobre a atual composição do BC, o economista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp) afirma que a instituição virou um bunker do rentismo.
"O Banco Central hoje é uma espécie de bunker desses negócios financeiros (rentismo). É uma face muito difícil que o presidente Lula está enfrentando. O golpe de 2016 não apenas transformou o Banco Central independente, mas também foi asfixiando o Estado brasileiro através da Lei do Teto de Gastos. Ou seja, isso faz parte de um todo. A direção do Banco Central é parte dessa estratégia de asfixia do Estado: política monetária restritiva que temos hoje, de maior taxa de juros e ao mesmo tempo o problema da gestão fiscal, junto com as reformas que foram feitas que rebaixaram demasiadamente o custo trabalho, expondo ainda mais a exploração da força de trabalho brasileira", diz Pochmann.
Te podría interesar
Marcio Pochmann também explica o patamar da taxa de juros ideal e como ela funciona. "Esses 3,75% a gente define como a base da taxação do custo do dinheiro. É uma taxa básica e nominal: sempre tem que ser relacionada com a inflação. É isso que denomina se a taxa é alta ou baixa. Você tem países com taxa nominal maior que do Brasil, só que a inflação é muito maior que a do Brasil. O que identifica a alta taxa de juros não é o nominal, é o real, é a sua relação com a inflação que está em um patamar que o próprio Banco Central deveria cumprir como meta fiscal e monetária de inflação e não consegue cumprir e pratica uma taxa extorsiva de juros”.
Para o economista, o presidente Lula entendeu que há um risco da economia em 2023 ser pior do que a de 2022 e que tal contexto precisa ser contornado, mas para isso é necessário alterar a taxa de juros. “Nós estamos sob esse risco. Desde o segundo semestre do ano passado a economia brasileira vem dando sinais de desaceleração do ponto de vista dos indicadores da produção, consumo e renda. Nós temos ainda o que vem do exterior, que também é uma situação grave do que está acontecendo na economia, especialmente no Ocidente. Então, apesar do esforço que foi feito antes do presidente Lula tomar posse, que foi a aprovação da PEC da Transição, que ampliou as possibilidades de evitar que o orçamento enviado pelo presidente anterior fosse aprovado nas condições originais, o que significaria que o orçamento de 2023 teria uma despesa inferior a R$ 150 bilhões do que foi a de 2022. A PEC conseguiu emparelhar. Só que nós estamos observando que há um problema seríssimo de endividamento de empresas, pequenas empresas e famílias e todo dinheiro que, de certa maneira, está sendo colocado através dos programas sociais, em boa medida, não está indo em sua totalidade para o gasto, para o consumo, mas para pagar juros, para pagar dívida passada. Esse é um problema sério".
Te podría interesar
Posteriormente, Pochmann explica que o governo Bolsonaro, na época das eleições, fez uma grande injeção de dinheiro a partir de programas sociais e que isso pode resultar em um crescimento artificial e positivo para 2022 que pode não se repetir neste ano. “O IBGE ainda não revelou qual foi o desempenho da economia [em 2022]. A estimativa é que ela teria tido um desempenho positivo entre 2.8 e 3.1, alguma coisa em torno disso. Tivemos uma queda na taxa de desemprego, que é muito alta, e ao mesmo tempo, os próprios programas sociais, a injeção de recursos que foi dada ainda na época eleitoral, isso faz com que a taxa de pobreza também caia. O governo termina de forma artificialmente com a situação em um patamar que pode não ser acompanhado em 2023. Isso eu quero chamar atenção”, alerta.
Em seguida, Pochmann afirma que o destravamento da economia brasileira e um crescimento real passam, justamente, pela reversão da atual taxa de juros praticada pelo BC. “Há uma luz amarela do ponto de vista do comportamento da economia se nós não tivermos uma reversão da situação atual na qual nos encontramos hoje e essa reversão começa justamente com a questão do comportamento da taxa de juros, porque quem tem dinheiro aplicado não se sente estimulado de colocar em atividades produtivas porque está sendo muito bem remunerado pelas taxas de juros básicas que o Banco Central define. Nós usarmos cartão de crédito com taxa anual de 400%. Essa política de juros não é brincadeira e, ao meu modo de ver, o presidente Lula está absolutamente correto e estamos trabalhando por um manifesto que possa sustentar esse tipo de fala, que não é política apenas, ela é uma necessidade técnica e econômica”, pontua Marcio Pochmann.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com o economista Marcio Pochmann: