Desde o início do ano, o preço do óleo de soja, um dos principais itens da cesta básica, subiu 20,37% no acumulado desde o início do ano, de acordo com dados de abril do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que mede a inflação do país.
A alta nos últimos 12 meses é de 31,53%.
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Diversos supermercados e e-commerces já vendem o litro do óleo de soja pela internet a mais de R$ 10.
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o aumento vertiginoso do preço do óleo de soja fez cair o poder de compra do consumidor. Em março de 2010, quando o preço da garrafa de óleo de 900 ml custava, em média, R$ 4, era possível comprar 25 unidades com R$ 100.
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Em março de 2011, com os mesmos R$ 100, só dava para adquirir 13 garrafas de óleo. Na ocasião, o produto era comercializado a R$ 7,58. E, em março deste ano, com o preço médio de R$ 9,41, o consumidor conseguia comprar somente 10 unidades.
Vontade política
Em 2021, o Brasil colheu quase 139 milhões de toneladas de soja. Desse total, 86 milhões de toneladas foram exportadas, estabelecendo um novo recorde. No óleo, 8 milhões de toneladas ficaram no país e 1,7 milhão de toneladas foram exportadas.
A supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, falou em entrevista à Rede Brasil Atual que o governo federal teria condições de conter a alta do óleo no mercado interno. O que falta, no entanto, é vontade política.
“Tem várias maneiras de fazer isso, desde manter estoques de grãos, até a implementação de um imposto de exportação. Ou então estabelecer uma cota para a venda ao mercado externo. Mas não tem vontade política, na verdade”, declarou Patrícia. “Quando o mercado atua livremente, é isso o que acontece. Vai tudo para fora, porque os compradores têm dinheiro, pagam em dólar. E internamente as pessoas começam a pagar esse valor absurdo”, acrescentou.
Alta em todo o planeta
A alta do produto, no entanto, não ocorre apenas no Brasil. Segundo o Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o valor dos óleos vegetais aumentou 46,5% nos últimos 12 meses em todo o planeta.
De acordo com especialistas entrevistados pela BBC News Mundo, entre os fatores que contribuem para o aumento do preço do produto estão o atual conflito entre Ucrânia e Rússia, uma alta na inflação em todo mundo e uma queda na produção global de óleos vegetais associada a uma grande demanda.
Conflito na Ucrânia
Rússia e a Ucrânia são os maiores exportadores de óleo de girassol do mundo. Juntos, são responsáveis por 70% de toda a exportação. Com a guerra entre os dois países, o óleo de soja, que é uma alternativa ao óleo de girassol, acaba sofrendo a influência da alta de preços.
A Rússia também é maior produtora e fornecedora de trigo para o mercado internacional. Já a Ucrânia é o quarto maior fornecedor de milho, ficando atrás somente dos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
“Com menos milho e trigo chegando ao mercado, a cotação dessas commodities aumenta. Para a produção, o uso de solo é praticamente o mesmo, mas os grãos competem entre si, então há uma contração da área de soja plantada, pressionando mais a cotação do grão”, afirmou Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da FGV (Fundação Getúlio Vargas) para o Invest News.
“Há uma demanda de óleo no cenário internacional, só que a oferta ficou menor. Com esse desequilíbrio, o preço mantém a sustentação de patamares mais elevados”, prossegue Serigati.
América Latina
Na América Latina, a variação de preço do produto vai de 9% na Bolívia a mais de 60% em países como a Costa Rica.
O produto aumentou 67% entre janeiro e abril deste ano nos supermercados chilenos, segundo o Escritório de Estudos e Políticas Agropecuárias (ODEPA), enquanto o óleo de girassol (também conhecido como óleo de calêndula) subiu 63,6%.
Além disso, há falta do produto. No vídeo abaixo se pode ver a disputa pelo produto em um supermercado no Chile: