Um levantamento inédito da Campanha Nacional Despejo Zero apontou que mais de 1,5 milhão de pessoas foram vítimas de despejos ou remoções forçadas no Brasil entre outubro de 2022 e julho de 2024. O número representa um aumento de 70% em relação ao primeiro mês do período analisado.
Ao todo, foram 1.524.556 pessoas afetadas por despejo ou remoção forçada. Desse total, 333.763 são famílias ameaçadas, 42.098 famílias despejadas e 78.810 vivendo com o despejo suspenso. O mapeamento não considera a população em situação de rua e as pessoas ameaçadas por desastres socioambientais.
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Todos esses números expõem, de acordo com a Gerente de Incidência Política da Habitat Brasil, Raquel Ludermir, um risco de convulsão social no país.
"Estamos diante de uma crise habitacional sem precedentes, e a Campanha Despejo Zero vem denunciando o risco de convulsão social se 1,5 milhão de pessoas sofrerem despejo. Isso se somaria aos 6,2 milhões de famílias que precisam morar de favor ou escolher se comem ou se pagam aluguel, a milhares de pessoas em situação de rua, sem falar nas pessoas que perderam suas casas em desastres socioambientais", afirma a gerente.
Crise habitacional tem classe, gênero, raça e região
O relatório aponta que essa crise habitacional no Brasil tem recortes bem definidos de classe, gênero, raça e região. Entre as maiores vítimas, estão pessoas pretas e pardas (66,3%), mulheres (62,6%), com renda até 2 salários mínimos (74,5%) e concentradas nas regiões Norte e Nordeste do país.
A campanha também chama atenção para o fato de mais de 265 mil das vítimas serem crianças e cerca de 260 mil pessoas idosas.
São Paulo lidera o ranking
O estado de São Paulo lidera o ranking com o maior número de famílias ameaçadas (90.015) e despejadas (9.508). Em seguida, aparecem Pernambuco, com 43.411 famílias vivendo sob a ameaça de despejo, e Amazonas, com a marca de 5.541 famílias despejadas nos últimos 4 anos, além de outras 31.092 ameaçadas.
Invasão Zero
O levantamento da Campanha Nacional Despejo Zero foi entregue ao governo federal. A primeira lista com casos prioritários para atenção federal, com 417 casos, envolvendo mais de 300 mil pessoas, foi entregue em março de 2023.
No documento, a campanha cita ofensivas e ações parlamentares contra movimentos que realizam ocupações e lutam pelo direito à moradia, como o “Invasão Zero”, grupo formado por uma milícia rural que coordena ataques a indígenas na Bahia.
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Além do grupo, também são citados 25 projetos de leis e legislações que criminalizam movimentos sociais, como o PL 1251/2024, do deputado Kim Kataguiri (União-SP), que proíbe que pessoas morem na rua e autoriza fiscais a retirar barracas e objetos que caracterizem estabelecimento permanente em local público.
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