VIOLAÇÃO DE DIREITOS

Brasil enfrenta situação de 'descontrole' em relação a violência policial

Relatório da Anistia Internacional destaca que somente em três meses quase 400 pessoas foram mortas em operações policiais em três estados do país

Relatório da Anistia Internacional critica índices de violência e impunidade.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil
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O Brasil enfrenta uma situação de "descontrole" em relação à violência policial no país, com uso "excessivo" e "desnecessário" da força. É o que diz um relatório da Anistia Internacional publicado nesta quarta-feira (24). Somente entre os meses de julho e setembro do ano passado, pelo menos 394 pessoas foram mortas em operações policiais nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.

O dado faz parte do relatório “O Estado Dos Direitos Humanos no Mundo". Para a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, o número mostra um descontrole no uso da força policial.

"Começa com o órgão constitucionalmente responsável por controlar a atividade policial, o Ministério Público, sendo omisso e inoperante diante de graves violações de direitos humanos cometidos por agentes do Estado; e termina com casos de letalidade policial que não são levados à justiça", afirma.

A diretora ainda acrescenta que o recado é de que "a polícia tem carta branca para matar e cometer outras violações, sobretudo, contra comunidades negras e periféricas". 

O relatório ressalta que as operações policiais fortemente armadas orientadas para a "guerra às drogas" nas favelas e bairros marginalizados resultaram, além do alto número de mortes, em outras violações dos direitos humanos, como invasões ilegais, destruição de propriedades, tortura, outros maus-tratos, restrições à liberdade de circulação, desaparecimentos forçados e suspensão de serviços essenciais, como escolas e centros de saúde

O texto cita  a operação policial no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, em outubro do ano passado, onde 17.000 estudantes não tiveram acesso à escola e mais de 3.000 consultas médicas foram suspensas devido a seis dias de operação. 

A Operação Escudo na Baixada Santista, litoral de São Paulo, que chocou pela letalidade e foi alvo de diversas denúncias por violações de direitos, também foi citada pela Anistia Internacional como exemplo do descontrole da força policial. A organização, em parceria com o Conselho Nacional de Direitos Humanos e outras entidades, documentou 11 casos de violações graves dos direitos humanos realizadas por agentes do Estado, incluindo execuções extrajudiciais, entrada ilegal em residências, tortura e maus-tratos.

Impunidade

Apesar do cenário, "o uso ilegal da força pela polícia continuou não sendo investigado de forma rápida ou eficaz", afirma o relatório. 

O documento cita alguns casos, como o desaparecimento forçado de Davi Fiuza, de 16 anos, durante uma batida policial na cidade de Salvador, Bahia, em 2014, que permaneceu sem solução. O caso de três policiais indiciados pelo assassinato do ativista Pedro Henrique Cruz em 2018 em Tucano, Bahia, que ainda não foram a julgamento, e o fato de sua mãe, Ana Maria, continuar a sofrer ameaças e intimidações.

A organização também afirma que o Brasil ignorou medidas para reduzir a violência policial, como o uso de câmeras corporais, e critica a fala do ex-secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappeli, que declarou, em outubro do ano passado, que “não se enfrenta o crime organizado com fuzil com rosas”, em relação à crise de segurança na Bahia.

Outras violações de direitos

O relatório ainda traz dados sobre violência contra defensores do meio ambiente, violência de gênero, direitos dos povos indígenas e índices de pobreza e desigualdades em relação aos 156 países analisados. Segundo a Anistia Internacional, a maioria dos países das Américas não conta com sistemas robustos para defender os direitos das populações citadas e as autoridades continuaram a violar os direitos à vida, à liberdade, a julgamentos justos e à integridade física, enquanto detenções arbitrárias foram generalizadas na região.