No Brasil, trabalhadores negros recebem 40% a menos que trabalhadores brancos no mercado de trabalho, de acordo com uma nova pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nesta terça-feira (19), na véspera do Dia da Consciência Negra.
O levantamento mostra que o rendimento de trabalhadores negros é 40% inferior aos brancos. Dentre os que têm ensino superior, essa diferença chega a 32% entre negros e brancos. Ao longo da vida laboral, os trabalhadores negros recebem, em média, R$ 899 mil a menos que os não negros. Essa diferença chega a R$ 1,1 milhão quando a comparação é entre trabalhadores com ensino superior.
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A pesquisa ainda mostra que nas 10 profissões mais bem pagas, os negros representam apenas 27% dos ocupados, enquanto são 70% dos trabalhadores nas 10 ocupações com os menores rendimentos. O Diesse também destaca que uma em cada seis mulheres negras trabalha como empregada doméstica.
A entidade afirma que apesar do crescimento da atividade econômica nos últimos anos, que gerou reflexos positivos sobre o mercado de trabalho, as melhores condições, no entanto, não foram suficientes para reduzir a desigualdade racial de renda no Brasil.
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"As estatísticas socioeconômicas do Brasil mostram que, historicamente, a situação das pessoas negras é pior do que a do restante da população. É um resquício da escravidão que, mesmo reconhecido, se mantém na sociedade. O mercado de trabalho talvez seja um dos meios onde a discriminação racial e a desigualdade sejam mais evidentes", diz um trecho do relatório.
O Dieese destaca que as dificuldades para trabalhadores negros começam desde o momento em que eles começam a busca por trabalho, já que a taxa de desocupação da população negra é sempre superior à do restante dos trabalhadores.
Nesse recorte, as mulheres negras são as mais atingidas: a taxa de desocupação entre elas chega a 10,1%, enquanto a de trabalhadores brancos é de 4,6%.
Cerca de um quarto (24,6%) das mulheres negras entrevistadas para a pesquisa e aptas a compor a força de trabalho disseram que: (1) estavam desocupadas ou (2) não tinham procurado trabalho por falta de perspectiva ou (3) estavam ocupadas, mas com carga de trabalho inferior à que gostariam de ter.
Para a organização, isso demonstra que mesmo com o mercado de trabalho aquecido, as mulheres negras continuam enfrentando dificuldades para conseguir uma inserção laboral adequada.
Informalidade
O relatório também chama atenção para os altos níveis de informalidade entre trabalhadores e trabalhadoras negras. Segundo a pesquisa, quase metade dos ocupados negros estava em trabalhos informais: 46% das mulheres e 45% dos homens. Entre os não negros, apesar de elevada, a taxa de informalidade era mais de 10 pontos percentuais menor do que entre negros (34%).
Além disso, o rendimento de pessoas negras é sempre inferior ao de pessoas brancas, como mostram gráficos sobre as 10 ocupações com os maiores rendimentos, onde os trabalhadores negros representam apenas 27% dos profissionais.
Já em relação às 10 ocupações com os piores rendimentos, os trabalhadores negros representam 70% dos profissionais.
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