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Trabalhadora indígena denunciou um ônibus precário da JBS e acabou demitida

Em denúncia ao MPT, sindicato aponta que veículo contratado colocava a vida dos trabalhadores em risco

Edna Marques da Silva, trabalhadora indígena do povo Terena que foi demitida da JBS.Créditos: Reprodução /Redes Sociais
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Edna Marques da Silva é uma entre os 40 indígenas do povo Terena que vivem na Terra Indígena Nioaque, no Mato Grosso do Sul, e que trabalham em uma fábrica da Seara Alimentos – marca de frangos e bovinos da JBS - em Sidrolândia (MS). Ou melhor, trabalhava. Ela foi demitida logo após denunciar ao RH da empresa as condições precárias do transporte que carregava seu povo da aldeia para o trabalho.

A planta de Sidrolândia da Seara é responsável pelo abate anual de 200 mil aves e emprega 700 funcionários, dos quais 40% são indígenas – nem todos do mesmo povo e território que Edna. A mesma fábrica já foi acusada em julho passado de submeter 15 trabalhadores a condições análogas à escravidão. Todos tinham sido contratados por terceirizadas – como as que fornecem o transporte – para a produção de frango. À época, a JBS afirmou que exigiu do fornecedor o cumprimento das regras trabalhistas.

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Dessa vez, a empresa alega em nota que a demissão ocorreu “exclusivamente por questões profissionais”. No entanto o transcurso dos acontecimentos sugere outra história.

Os ônibus que transportam os Terena de Nioaque até a fábrica em Sidrolândia passam pela Serra do Maracaju, localizada na BR-060, conhecida como “serra da morte” na região. O percurso total é de quase 100 km e os indígenas costumam deixar as aldeias às 10 da manhã para retornar perto da meia noite.

“Isso quando o ônibus não estraga. Um dos ônibus faz um barulho estranho quando o motorista acelera, parece que está torcendo um metal”, conta Edna para reportagem da Repórter Brasil sobre a sua história.

Mas não foi Edna quem tomou ciência de que o transporte era precário. A comunidade já estava irritada com a condição dos ônibus e reclamava dos constantes problemas mecânicos. Edna apenas colocou a insatisfação coletiva para fora.

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Em 29 de novembro fez uma reclamação formal junto ao RH da empresa e ouviu como resposta que todo o “pessoal da aldeia” seria demitido se esse “pensamento sindicalista” persistisse. Chegaram a lhe dizer que “quando tem pressão, a corda estoura no lado mais fraco”. No seguinte, quando um dos ônibus quebrou próximo de sua casa, ela gravou um vídeo narrando sua demissão.

“Eu vim semana retrasada no RH procurar melhorias para o nosso ônibus e houve uma pressão muito grande em cima de mim. Falaram que me mandariam embora, que se continuasse assim todo mundo iria embora, e eu acabei demitida pelo meu supervisor. Fui demitida por ter falado que esse ônibus não tem condição. Olha para ele [aponta ao ônibus], vai que cai na Serra ou estragas na estrada. São vidas, mas pra eles as nossas vidas não importam”, diz Edna nas imagens divulgadas nas redes.

A jovem trabalhadora é respaldada pela sua comunidade. O cacique Joel Marques, líder da sua comunidade, afirma categoricamente que a denúncia livrou seu povo de uma tragédia anunciada.

Já Sergio Bonzon, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados (Sindaves), diz que a prática é comum. “Fazem isso para que não reclamem das péssimas condições de transporte e trabalho”, afirmou.

Além de demitir a trabalhadora por "questões exclusivamente profissionais", a JBS também enviou uma nota à imprensa dizendo que notificou a terceirizada para que corrija suas práticas e venha a se adequar à lei trabalhista.