Conforme um dos pontos do relatório final da CPMI dos Atos Golpistas, redigido pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e aprovado nesta quarta-feira (18) no Senado Federal, o dia 25 de outubro pode se tornar o Dia Nacional de Defesa da Democracia. Foi nessa data, em 1975, que o jornalista Vladimir Herzog foi executado por militares dentro do Doi-Codi. O covarde assassinato e a posterior mentira de que ele teria se suicidado marcaram a luta contra o autoritarismo no Brasil.
A ideia de rememorar a data com o mote de defender a democracia partiu do Instituto Vladimir Herzog que, com o apoio de mais de 150 organizações da sociedade civil e de personalidades que também foram perseguidas naquela época, como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, levou o projeto para a senadora.
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Uma vez aprovado o relatório, parlamentares do campo democrático agora tentam fazer com que o projeto tramite em regime de urgência no Congresso. Além disso, a proposta de Eliziane também prevê a instalação de Memorial da Democracia no Senado.
À CNN Brasil, o historiador Rogério Sotilli, diretor do Instituto Vladimir Herzog, disse que as expectativas são altas para que Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, atenda ao pedido de urgência. “É um projeto muito simbólico no momento em que parcelas das Forças Armadas se associaram a movimentos golpistas”, afirmou.
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Quem foi Vladimir Herzog
Nascido em Osijek, na antiga Iugoslávia (atual Croácia), em 27 de junho de 1937, Vladimir Herzog era filho de uma família judaica. Durante a Segunda Guerra Mundial, a região vivia sob o Ustasha, o brutal regime de terror que servia como satélite da Alemanha nazista.
Perseguida, a família de Herzog precisou fugir para a Itália de Mussolini, onde viveu clandestinamente até conseguir deixar a Europa rumo ao Brasil.
Uma vez por aqui e naturalizado brasileiro, em teoria “são e salvo”, Herzog se tornou filósofo, jornalista e dramaturgo. Quando ainda construía uma carreira brilhantem assumiu a direção de telejornalismo da TV Cultura no começo da década de 1970, paralelamente ao cargo de professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).
Em 1975, Herzog já estava consagrado como um dos melhores jornalistas do país e um dos mais comprometidos com a luta pela democracia e os direitos humanos, o que chamou a atenção de José Maria Marin, deputado estadual pela Arena à época que recentemente foi presidente da CBF.
Marin fez uma série de discursos na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) contra a TV Cultura, afirmando que a sociedade paulistana estava apavorada com o conteúdo veiculado pela emissora, que denunciava abusos e corrupção do regime de então, e pedia a cabeça de Herzog.
Foi a senha para que os seres mais putrefatos da ditadura militar se sentissem autorizados a cometer quaisquer covardias contra o profissional. Após ser procurado, Vladimir Herzog se apresentou às "autoridades" por livre e espontânea vontade, sem imaginar que seria brutalmente assassinado nos porões do Doi-Codi e que ainda teria sua memória violada, quando os torturadores disseram à imprensa que ele teria cometido suicídio durante a detenção.
A mentira era tão deslavada que na foto, forjada para comprovar a narrativa, Herzog aparecia com o pescoço enrolado em um cinto preso às grades da cela, e os pés no chão – o que impede o processo de asfixia mecânica. Autoridades judaicas se recusaram a enterrá-lo na ala dos suicidas, conforme manda a tradição religiosa para o caso de suicídios de fato.
Herzog se tornou um símbolo da luta contra o regime militar e pela democracia brasileira.