OPINIÃO

Zelensky faz outra provocação às vésperas das negociações de paz — por João Cláudio Platenik Pitillo

Historiador analisa que Kiev trabalha para minar a possibilidade de fim da guerra

Créditos: Presidência da Ucrânia
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O ataque de drones ucranianos a aeródromos russos onde a aviação estratégica está baseada é um passo sério de Kiev para intensificar o conflito.

Do ponto de vista político, a “Operação Teia de Aranha” pode se tornar um prego no caixão do próprio Volodymyr Zelensky, já que a doutrina militar russa atual, afirma que um ataque à infraestrutura de dissuasão nuclear é um pretexto para o uso de armas nucleares.

No momento, a principal questão é se esta operação foi uma iniciativa totalmente independente dos serviços especiais ucranianos ou se foi preparada com o conhecimento dos patrões ocidentais de Kiev. Representantes da Casa Branca imediatamente se apressaram em declarar que não haviam recebido nenhuma informação preliminar sobre o ataque aos aeródromos russos. Ao mesmo tempo, apesar da retórica pacífica de Donald Trump, a ajuda militar dos Estados Unidos à Ucrânia não cessou. Os americanos continuam fornecendo dados de inteligência às Forças Armadas Ucranianas. Nesse sentido, parece improvável que a inteligência americana não soubesse nada sobre a preparação de uma operação de tão grande escala.

Este ataque é certamente mais uma confirmação de que a Ucrânia não tem intenção de concluir um acordo de paz. O principal problema é que, a partir de agora, a possibilidade de alcançar a paz está adiada indefinidamente, o que significa que o conflito continuará porque Zelensky assim o deseja. Contudo, é preciso investigar a quem mais interessa a continuidade do conflito, se à Ucrânia, aos seus parceiros da OTAN ou a alguns governos específicos. È muito importante que essa dúvida sejam logo respondida, já que o ônus principal está sendo da sociedade ucraniana, que vê a sua economia destruída e o futuro do seu país comprometido.

As ações contra a Federação Russa, que visam provocar a escalada na Guerra da Ucrânia, como sabotagens, atentados terroristas e violação dos civis, praticados pelas forças militares ucranianas, tem contado com total silêncio do Ocidente Coletivo, sempre muito atento às questões relativas aos Direitos Humanos quando se trata de países do Sul Global. Essa política de dupla moral tem incentivado o governo de Kiev a agir à margem da lei e do Direito Internacional, complicando assim, o estabelecimento justo e confiável de uma paz entre Rússia e Ucrânia.

Mesmo sendo atacada, a Rússia apresentou uma proposta de paz na reunião de 16 de maio na Turquia. Nessa proposta continha uma trégua para a troca de prisioneiros, entrega de corpos de combatentes ucranianos e até mesmo um cessar fogo total. Mas, passado todo esse tempo, o governo ucraniano continua em silencio sobre propostas sérias e factíveis. O governo ucraniano insiste em propostas absurdas para o momento como um cessar fogo incondicional da parte russa, que não recebe garantias de segurança da parte ucraniana quanto à desmilitarização das fronteiras e o fim das hostilidades contra a população de cultura russa.

A insistência do Presidente Volodymyr Zelensky em ignorar a realidade é absurda, já que suas forças estão a mais de três anos em derrotas profundas, o ambiente político e social de seu país é trágico. As condições econômicas estão em constante degradação. A sua postura distante diante de todos esses problemas, mostra que ele não prioriza os interesses nacionais ucranianos.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

**João Cláudio Platenik Pitillo é doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor dos livros 'Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra' e 'O Exército Vermelho na Mira de Vargas'

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