Recentemente, na posse do presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, as atuais tendências de direitização da chamada esquerda consentida — aquela que transita pelos corredores dos grandes bancos, que se rende ao mercado e que fala em soberania da Pátria Grande, mas evita a cerimônia de posse de um governo realmente anti-imperialista — deram lugar ao "murismo", abstendo-se da presença ou participando apenas protocolarmente, como fez o Brasil, com a discreta presença da embaixadora Glivânia Maria de Oliveira, diplomata do Itamaraty.
Aliás, o Itamaraty ainda parece ser um espaço onde o presidente Lula não assumiu completamente o controle, tamanhos os passos em falso que o Ministério das Relações Exteriores tem dado sem que a sociedade brasileira, por meio de seus representantes no Congresso Nacional, questione ou conteste essas decisões.
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Vários representantes do Itamaraty, como Eduardo Saboia, secretário para Ásia e Pacífico, um dos principais negociadores do Brasil, são apontados por Maduro como responsáveis pelo veto à entrada da Venezuela no BRICS.
O Itamaraty ainda carrega vestígios da ditadura, período em que constituiu o Centro de Informações do Exterior (CIEX), uma verdadeira agência de espionagem dentro das embaixadas brasileiras. Durante a Operação Condor, diplomatas denunciaram exilados políticos, contribuindo para sua captura e colaborando ativamente com a manutenção do regime militar no Brasil.
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A política externa brasileira parece ainda seguir os métodos do diplomata Pio Corrêa, que protegeu interesses da direita internacional e patrocinou a nomeação de figuras altamente conservadoras para postos estratégicos.
Recentemente, o governo indicou o Ministro de Segunda Classe André Veras Guimarães como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Brasil no Irã.
O país persa, de forma diplomática, concedeu o "agreement" ao indicado, mas, aparentemente, ninguém informou o Planalto sobre o alinhamento ideológico do diplomata. Escolher um nome notoriamente de extrema direita para representar o Brasil em um país amigo, que há décadas resiste à pressão imperialista dos Estados Unidos, mostra uma preocupante desconexão com a política externa do governo brasileiro.
A Luta Anti-imperialista e os Desafios da América Latina
A Venezuela tenta, de forma consciente, manter viva a luta anti-imperialista, promovendo avanços sociais que o Brasil persegue há mais de sessenta anos, como:
- Monopólio estatal do petróleo
- Reforma agrária
- Socialização da educação
- Controle sobre o capital estrangeiro
- Reforma bancária
- Nacionalização de empresas estratégicas (energia, comunicações, ciência e inovação)
No entanto, essas pautas nacionalistas enfrentam enormes dificuldades na América Latina, principalmente devido à falta de união entre as esquerdas e ao avanço da direitização em países que se dizem progressistas, mas que aderiram a uma política liberal que impede avanços estruturais contra o poder do mercado financeiro.
O pensamento revolucionário e soberano se perde nas contradições desses governos, deixando espaço para que apenas movimentos populares, ONGs e entidades de direitos humanos avancem na defesa de pautas nacionalistas e sociais. Enquanto isso, governos de viés supostamente progressista se acomodam em disputas eleitorais, sem coragem para promover mudanças reais.
A Revolução Bolivariana, resgatada da história do Libertador Simón Bolívar pelo presidente Hugo Chávez e continuada por Maduro, mantém acesa essa luta. No Brasil, as Reformas de Base propostas pelo governo João Goulart seguem esquecidas, em grande parte devido à decisão do atual governo de "não remoer" o passado e ignorar a passagem dos 60 anos do golpe de 1964, um marco que exige uma reflexão sobre a necessidade de uma reforma estrutural profunda.
O Instituto Presidente João Goulart, criado há 20 anos para preservar a memória do presidente João Goulart, continuará mantendo contato com a esquerda anti-imperialista do governo Maduro, além de seguir promovendo a luta por um programa nacionalista atualizado, alinhado aos interesses do Brasil soberano e independente.
* João Vicente Goulart é presidente do Instituto João Goulart
** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum