CINEMA NACIONAL

"Ainda Estou Aqui", a ressurreição da memória - Por João Vicente Goulart

Artigo do filho de Jango fala sobre os aspectos políticos e o papel histórico do filme brasileiro indicado ao Oscar

"Ainda Estou Aqui", a ressurreição da memória.Cena do filme "Ainda Estou Aqui"Créditos: Divulgação
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Nestes dias, tivemos a excelente notícia da classificação para a disputa do Oscar de "Ainda Estou Aqui", filme de Walter Salles, que consagra Fernanda Torres como uma atriz gigante, representando o cinema brasileiro.

Escapando um pouco da crítica artística e entrando na política, temos que reconhecer o grande papel histórico deste filme, que desenterra para o grande público a ditadura produzida pelo golpe de 1964, a mesma que o Brasil não pode recordar nos 60 anos da passagem daquela tragédia, pois não devíamos "remoer o passado".

Esta obra cinematográfica veio na hora certa, trazendo novamente os fantasmas do passado, que devem ser devolvidos à realidade do nosso presente, para que possamos conhecer os valores democráticos e analisar profundamente que nossas conquistas políticas ainda dependem da instabilidade da solidez emocional coletiva de um povo que deve conhecer aqueles que tombaram antes de conquistarmos, pelo voto, nosso inexorável destino.

Sim, não devemos ser Midas, napoleônicos ou descrentes do passado, pois tudo não se resolve depois de um belo discurso. Não podemos negar o passado para, depois, enaltecê-lo, pois o altruísmo é uma das qualidades mais dignas daqueles que não fazem parte do oportunismo.

É interessante o surfe político de alguns representantes do povo brasileiro.

Criar agora o prêmio Eunice Paiva dentro da Advocacia Geral da União, para que se aproveitem da onda positiva desta grande obra, "Ainda Estou Aqui", que recorda o grande homem e político brasileiro Rubens Paiva, assassinado e morto pela truculência da ditadura de 21 anos sobre o Brasil, quando o governo proibiu recordar o golpe de 1964, parece um bom momento para surfar na alegria que todos nós sentimos com a indicação ao Oscar deste filme brasileiro.

Um filme triste, que nos lembra a ditadura.

A grande surfista Maya Gabeira poderia ter ensinado a esses surfistas políticos, antes de sua aposentadoria, que se deve ter cuidado com as grandes ondas ao serem surfadas, pois, para domá-las, é preciso lembrar de outros tombos e medos, remoendo o passado para reescrever o futuro.

Outros filmes virão. O mar não pode ser controlado.

* João Vicente Goulart é presidente do Instituto João Goulart

** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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