É claro que a comemoração de relações diplomáticas entre países deve ser lembrada, não só pela memória transcorrida entre o início das relações entre os povos, como também pela verdade de momentos e homens que dela participaram com altivez, dedicação e insistência.
A exposição, hoje realizada no salão nobre do Congresso Nacional, é sobre a relação sino-brasileira, feita entre o grupo parlamentar Brasil-China e a frente parlamentar Brasil-China, unindo esquerda e direita, agronegócios, relações comerciais, tenta, de uma maneira dissimulada, agradar gregos e troianos, ao comemorar 50 anos de relações entre esses dois povos. Contando também com a participação da Embaixada da China, que tem à frente o embaixador Zhu Qingqiao.
Ora, a história dos povos não se refere ao presente, não a agrados dos governos atuais de ambas as nações, para contar a trajetória do início da amizade desses povos, do começo até os dias de hoje. É preciso ter mais coragem.
Nos painéis, passagens culturais dos dois povos, visitas entre grupos de dança e intercâmbios, desde a época dos finais dos anos cinquenta, mostras combinadas de cultura, fazendo junção entre dragões chineses e um bumba meu boi, muito bem idealizado, como que para dar impressão que essa junção representa uma verdadeira miscigenação entre o boi e o dragão.
Mas, nas fotos dos painéis, é onde se esconde a coruja da omissão e o pragmatismo do parcialismo político. Fotos com Lula e Xi ji Ping, visitas de delegações comerciais, financiamentos de empresas atuais BYD e XCMG.
Como alega o deputado Daniel Almeida, por exemplo, foi inaugurada uma exposição no Salão Nobre do Congresso alusiva aos 50 anos do reconhecimento da China comunista pelo Brasil. As empresas chinesas BYD e XCMG repassaram para o evento R$ 30 mil e R$ 50 mil.
“Quando a gente faz um evento, a gente liga para empresários chineses e eles ajudam”, afirma Fausto Pinato.
Justo, nada a criticar quando estas parcerias são necessárias ao Brasil, mas entre PCdoB, PP e realizações comerciais é melhor sem fotos antagônicas, como as de Goulart e Geisel. Melhor um dragão e um boi.
Mas a grande crítica é o blefe histórico, de omissão, em um ato público dos representantes do povo brasileiro, que omitem figuras como o ex-presidente João Goulart, primeiro líder ocidental que realizou uma missão oficial, e o primeiro a abrir e iniciar a amizade entre os povos chinês e brasileiro, em setembro de 1961.
Omitem, também, o reatamento das relações oficiais em 1974. Destes 50 anos que a exposição pretende recordar, sem trazer à tona e omitindo a figura do general Ernesto Geisel, que propiciou este reatamento, no exercício de seu mandato.
Como contar a história de amizade dos povos com omissões como esta?
Para unir polos opostos, se omite a razão, se esconde a cabeça, se enterra a história, se ignoram as críticas e batemos palmas sorrindo.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.