Charles Darwin, um dos maiores intelectuais do século XIX e o responsável por introduzir o conceito de evolução natural na biologia com sua obra mais célebre, A Origem das Espécies (1859), tinha uma mente metódica e analítica, características que extrapolavam seus estudos científicos.
Nascido na Inglaterra em 1809, Darwin sempre foi mais atraído pela história natural, pelas viagens e pela carreira científica do que por questões sentimentais. Aos 29 anos, já integrava a prestigiada Sociedade Geológica de Londres. Não surpreende, portanto, que tenha hesitado antes de decidir se o casamento valia ou não a pena, ao considerar a união matrimonial com a própria prima, Emma Wedgwood.
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Seus receios envolviam principalmente a perda de autonomia da vida de solteiro. Para um livre-pensador dedicado à ciência, e especialmente naquela época, a vida conjugal poderia representar um fardo. Por isso, Darwin recorreu a uma lista. Melhor: a uma lista de prós e contras.
Logo após retornar de uma viagem científica que durou cinco anos, pelos quais Darwin viajou o mundo coletando amostras botânicas e animais, ele começou a colher pontos para avaliar se valia a pena se envolver com o matrimônio. Esses registros foram preservados em seu diário e expostos em uma obra que reúne suas correspondências entre 1837 e 1843, dos 28 aos 34 anos de idade.
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Em julho de 1838, Darwin anotou alguns dos pontos que ele considerava favoráveis ao casamento. Eles eram:
- A possibilidade de ter filhos, se Deus permitisse;
- Ter uma companheira ao longo da vida, até a velhice;
- Alguém para amar e com quem "brincar" — "melhor do que um cachorro, de todo modo", ele concluía;
- Ter uma pessoa para cuidar do lar;
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E poder gozar dos encantos da música e das conversas femininas.
No seu ímpeto naturalmente utilitarista, no entanto, Darwin considerou que todas essas coisas, embora fizessem bem à saúde espiritual e mental, podiam acabar sendo "uma terrível perda de tempo".
Do outro lado da balança, no campo dos contras, para Darwin, um homem solteiro teria liberdade para circular, escolher suas companhias e evitar compromissos sociais indesejados. Não precisaria arcar com os custos e as tensões de criar filhos, nem abrir mão de hábitos como ler à noite ou manter sua rotina intelectual.
Entre as desvantagens do casamento, ele listou:
- A provável perda de tempo com responsabilidades domésticas;
- O risco de mudar hábitos de vida, ganhar peso e ficar ocioso;
- Ter menos tempo e dinheiro para sua obra científica;
- A possibilidade de ter que deixar Londres — o que considerava uma grande "sentença" — caso a esposa não gostasse da cidade;
- Ter de trabalhar demais para sustentar a casa e acabar prejudicando sua saúde.
Mas "passar a vida inteira como uma abelha castrada", que só "trabalha e trabalha", era, para ele, igualmente intolerável. Em seu diário, descreveu a imagem ideal: "uma esposa amável e gentil em um sofá, com uma boa lareira, livros e talvez música".
Créditos: arquivo público / Darwin Correspondence Project
Por fim, ao final de sua extensa avaliação, que durou meses, Darwin concluiu as "listas" com seu humor característico, escrevendo: “Case-se. Q.E.D.” — a sigla em latim para Quod erat demonstrandum ("Como se queria demonstrar"). A decisão estava praticamente tomada.
Darwin se casou com Emma Wedgwood, sua prima, que seria sua parceira de vida por 43 anos. Tiveram dez filhos. Emma não apenas ofereceu o ambiente doméstico que ele imaginava, mas também se tornou uma colaboradora ativa em sua produção intelectual.
Poliglota, ela traduzia e lia obras científicas internacionais para o marido, transcrevia seus manuscritos e acompanhava seus interesses com atenção e carinho. Emma foi, para Darwin, muito mais do que um apoio afetivo: foi uma presença fundamental na continuidade de sua obra.