VETADAS

Ney Matogrosso e as 3 canções censuradas pela ditadura; saiba quais

Jornalista Julio Maria revela detalhes da história no livro “Ney Matogrosso – A Biografia”

Ney Matogrosso.Créditos: Reprodução de Vídeo/YouTube
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A censura na época da ditadura militar no Brasil perseguiu inúmeros artistas, representantes de todas as manifestações culturais. A música foi uma das mais afetadas, vitimando dezenas de compositores e intérpretes, que se viram impedidos de apresentarem suas canções.

Ney Matogrosso iniciou sua trajetória musical no começo dos anos de 1970, auge do regime militar e da violência em todos os sentidos.

A censura prévia proibia a veiculação de qualquer manifestação cultural ou artística que, na visão estreita e tosca dos militares, pudesse ameaçar o regime ou que “atentasse contra a moral”.

O livro “Ney Matogrosso – A Biografia”, escrito pelo jornalista Julio Maria, revela que o cantor teve três canções do seu repertório vetadas pelo Departamento de Censura, todas do segundo álbum do Secos & Molhados, lançado em 1974.

Uma delas recebeu o título de “Tristeza Militar”. Autor da letra, João Ricardo, um dos integrantes do grupo, tentou “driblar” a censura, usando o artifício da poesia para demonstrar a aflição com a realidade política da época. Um dos trechos diz: “Não há mais hora H/ Ou medo de gritar/ Tristeza Militar”.

Outra canção visada é “Tem Gente com Fome”, poema musicado de Solano Trindade (1908-1974), criador da Frente Negra Pernambucana, do Centro de Cultura Afro-Brasileira e do Comitê Democrático Afro-Brasileiro, entidades que combatiam os militares. Trindade também fundou o Teatro Experimental Negro e passou o final da vida sendo vigiado por agentes da inteligência da ditadura, de acordo com informaçõs do Metrópoles.

A ignorância dos censores

A terceira música é “Pasárgada”, a respeito do poema “Vou-me Embora pra Pasárgada”, de autoria de Manuel Bandeira, publicado em 1930.

“Em Pasárgada tem tudo/ É outra civilização/ Tem um processo seguro/ De impedir a concepção/ Tem telefone automático/ Tem alcaloide à vontade/ Tem prostitutas bonitas/ Para a gente namorar”, narra um trecho do poema.

A biografia relata que a implicância do censor não foi a referência às prostitutas ou à liberdade sem restrições no lugar fictício. O problema, curiosamente, estava na expressão “alcaloide à vontade”, interpretada como apologia a um suposto entorpecente.

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