Nas últimas semanas, algumas ações do presidente dos EUA, Donald Trump, suscitam discussões sobre até que ponto seu governo pode ser considerado democrático ou se caminha para se tornar uma autocracia — uma versão superlativa do modelo adotado por Viktor Orbán, figura tão extremista quanto Trump.
Ações autoritárias do governo Trump contra universidades e estudantes estrangeiros
Concretamente, as ações de Trump apontadas como autoritárias incluem ataques à Universidade de Harvard: a Casa Branca pretende cortar todos os fundos federais da instituição, que somam cerca de US$ 3 bilhões. Além disso, o governo acusa a universidade de manter em seu quadro estudantes e pesquisadores estrangeiros.
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Outra medida preocupante é a exigência de que, antes de admitir novos estudantes estrangeiros, a Casa Branca realize um pente-fino nas redes sociais daqueles que desejam estudar nos EUA.
Perseguição, ameaças internacionais e tirania tecnológica
Mas as ações autoritárias da gestão Trump não param por aí: há também perseguição a imigrantes e ameaças contra autoridades estrangeiras que trabalham pela regulamentação das redes sociais.
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Especialistas apontam que o segundo governo de Donald Trump marca uma nova etapa do capitalismo, caracterizada pela defesa das big techs, que passam a atuar acima das leis nacionais — ou seja, uma tirania tecnológica misturada com fundamentalismo religioso, que visa eliminar as vidas LGBT e qualquer forma de sociabilidade fora da heteronormatividade. Nos primeiros dias do governo, Trump revogou todas as políticas de diversidade sexual, e as empresas de tecnologia seguiram o mesmo caminho.
Livros que anteciparam o cenário autoritário do segundo governo Trump
O cenário apontado pelo início do segundo governo Trump é novo no chamado “mundo real”, mas já havia sido previsto por três livros que se tornaram clássicos da literatura e das ciências sociais. Confira abaixo:
“Semente da Terra” (vols 1 e 2), por Octavia Butler
A escritora Octavia Butler, pioneira da ficção científica afro-americana, apresenta em sua obra dupla A Parábola do Semeador (vol. 1) e "A Parábola dos Talentos" (vol. 2) um retrato sombrio de um futuro distópico nos Estados Unidos. Ambientados em um cenário de colapso social, ambiental e econômico, os livros acompanham Lauren Olamina, uma jovem que desenvolve uma nova filosofia espiritual chamada “Earthseed” enquanto luta para sobreviver e reconstruir comunidades em meio ao caos. A narrativa aborda temas como racismo, desigualdade, fanatismo religioso e a crise climática, oferecendo uma reflexão poderosa sobre os desafios do presente e os perigos de um futuro marcado pela violência e pela desumanização.
Publicadas na década de 1990, as obras antecipam debates atuais sobre desigualdade, o papel das comunidades na resistência e a ascensão de regimes autoritários, tornando-se referência essencial na literatura de ficção científica socialmente engajada. Butler destaca-se por sua habilidade em combinar especulação futurista com profundas questões humanas e sociais, desafiando estereótipos e ampliando o espaço para vozes marginalizadas no gênero.
“O Conto da Aia”, por Margaret Atwood
"O Conto da Aia", obra distópica da escritora canadense Margaret Atwood, retrata uma sociedade totalitária chamada República de Gilead, onde as mulheres são reduzidas a funções reprodutivas e privadas de direitos básicos. Narrado pela personagem Offred, uma “aia” forçada a gerar filhos para a elite dominante, o romance explora temas como misoginia institucionalizada, controle autoritário do corpo feminino e a perda da liberdade individual.
Publicado originalmente em 1985, o livro ganhou novo destaque diante das recentes ondas globais de retrocessos nos direitos das mulheres e debates acalorados sobre autonomia corporal. A obra de Atwood serve como alerta poderoso sobre os perigos do autoritarismo, do extremismo religioso e das tentativas de restringir direitos civis, mantendo uma relevância inquietante para os desafios políticos e sociais do século XXI.
“Cypherpunks”, por Julian Assange
Cypherpunks, escrito por Julian Assange, fundador do WikiLeaks, é um mergulho profundo na história e nas ideias do movimento cypherpunk, que desde os anos 1990 defende o uso da criptografia para proteger a privacidade e a liberdade na era digital. A obra expõe as tensões entre tecnologia, poder e vigilância, destacando como o avanço das redes digitais transformou o controle social e o acesso à informação.
Ao antecipar discussões sobre a manipulação de dados, censura e monitoramento em massa, Cypherpunks tornou-se uma referência crucial para compreender os desafios contemporâneos das redes sociais e o crescente debate sobre privacidade, segurança e direitos civis na internet. O livro evidencia como as tecnologias criptográficas são ferramentas essenciais para resistir ao autoritarismo digital e preservar liberdades fundamentais.