JOGOS

A verdadeira inventora do jogo Monopoly desprezava monopólios, aluguéis e... o capitalismo

O jogo de tabuleiro clássico e um dos mais famosos do mundo foi inventado por uma 'rebelde' e tinha, na verdade, dois conjuntos distintos de regras; entenda

Elizabeth Magie segura sua versão do Jogo do Proprietário.Créditos: reprodução
Escrito en CULTURA el

Monopoly, um jogo de tabuleiro clássico simula uma economia formada por múltiplos jogadores em busca de acumular propriedades e, eventualmente, expulsar os outros jogadores da dinâmica por falta de recursos. Em 2025, o jogo completou 270 milhões de unidades vendidas.

Ele é considerado um dos jogos de tabuleiro mais inovadores do mundo, mas a maioria das pessoas não sabe de algo muito mais inovador sobre sua invenção e posterior descaracterização: na verdade, ele foi idealizado por uma mulher anticapitalista e feminista, cujo objetivo era desencorajar o objetivo principal do jogo de tabuleiro que ajudou a idealizar — a compra de grandes propriedades, o monopólio e o a competição por recursos. 

Elizabeth Magie, a criadora do jogo que precedeu Monopoly, nasceu em 1866 no estado norte-americano da Virgínia. Ela se considerava uma rebelde que desprezava os valores de sua época: com 40 anos de idade, ainda não era casada, e falava abertamente contra a posição de subordinação feminina diante de instituições como o casamento.

Além de feminista, Magie era contra o monopólio de grandes propriedades, e acreditava no igual direito de "todos os homens ao uso da terra" e no seu direito de existência independente. Ela criticava as desigualdades que advinham sobretudo da posse de terras, e patenteou a invenção do jogo que viria a se tornar Monopoly no ano de 1904.

Mas ele era chamado, incialmente, de "Jogo do Proprietário" (Landlord's game), e foi inovador no seu formato: não havia, à época, jogos com aquela disposição visual, com uma 'pista' em que se avançava no tabuleiro, não em níveis, mas por lugares.

O jogo de Magie tinha duas seções distintas: uma delas era a Prosperidade, com seu próprio conjunto de regras, e a outra, com um outro conjunto de regras, era a Monopolista.

Regras para o Landlord's Game idealizado por Magie. Créditos: reprodução

Na seção de Prosperidade, ao invés de incentivar o monopólio, o Jogo do Proprietário fazia com que os jogadores se beneficiassem toda vez que algum deles adquiria uma propriedade nova — ou seja, comprar terras se traduzia em ganhos de "aluguéis" para todos os jogadores ao invés da usual cobrança de aluguel apenas para aqueles jogadores que porventura 'caíssem' na propriedade após lançar os dados.

Nessa seção, o jogo era ganho quando o jogador que iniciou o jogo com a menor quantia de dinheiro conseguisse dobrá-la — e quem ganhava? Todo mundo.

Isso ocorria porque o jogo foi idealizado para educar seus jogadores sobre as políticas do Georgismo, um movimento econômico conhecido pela política de "taxa única", que estimulava as pessoas a ter apenas o salário daquilo que elas mesmas produziam, enquanto a renda dos aluguéis, os impostos sobre a terra e os recursos comuns deveriam pertencer à sociedade como um todo. Era uma ideologia que buscava integrar a eficiência econômica à justiça social, 'desincentivando' monopólios naturais e o controle privado de recursos comuns, como água, terra, minerais etc.

Já na seção Monopolista, os jogadores deveriam comprar as propriedades e, como no Monopoly moderno, cobrar aluguel dos jogadores que caíssem lá pela sorte dos dados. Ganhava quem, ao fim do jogo, conseguia mais dinheiro, 'quebrasse o banco' ou expulsasse os outros jogadores por falta de recursos. Era uma outra face da moeda, e os jogadores podiam ter as duas visões do mundo: a idealizada e a realidade nua e cria, que Magie sugeria poder ser chamada "o jogo da vida". 

Na edição que se conhece hoje do Monopoly famoso, há apenas a segunda versão do jogo, após a compra de sua patente pela empresa Parker Brothers, que o relançou sob seu título atual. 

Quando os Parker Brothers adquiram a patente do jogo, entretanto, a empresa não "comprou" a versão original idealizada por Magie, mas uma segunda versão, que havia sido adaptada à comunidade religiosa Quaker por um homem chamado Charles Darrow, dito seu real inventor, ao invés de Magie, que permaneceu esquecida durante anos — uma mentira destinada a esconder sua verdadeira origem e seu significado primário. 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar