ARQUEOLOGIA

Túmulo de 2.200 anos na China guarda segredos da 'Princesa Vermelha' da Rota da Seda

Descoberta ocorreu durante escavações em um cemitério na cidade de Turpan, localizada na região de Xinjiang, no noroeste da China

Créditos: Foto: Qian Wang
Escrito en CULTURA el

Arqueólogos na China fizeram uma descoberta sem precedentes ao encontrar uma sepultura de 2.200 anos contendo os restos de uma mulher cujos dentes foram tingidos com cinábrio, um mineral vermelho altamente tóxico.

O cinábrio, composto de mercúrio e enxofre, tem sido utilizado há milênios em rituais, pinturas e inscrições. No entanto, esta é a primeira vez que sua aplicação foi identificada diretamente em dentes humanos, conforme aponta um estudo publicado em 24 de fevereiro na revista Archaeological and Anthropological Sciences.

"Esse é o único caso conhecido no mundo antigo em que o cinábrio foi utilizado para pigmentar dentes", afirmou Qian Wang, professor da Universidade Texas A&M e autor sênior do estudo, em entrevista ao Live Science.

A descoberta ocorreu durante escavações em um cemitério na cidade de Turpan, localizada na região de Xinjiang, no noroeste da China. Os pesquisadores identificaram que os sepultados pertenciam ao povo Gushi, ligado à cultura Subeixi, uma sociedade nômade que prosperou na Bacia de Turpan há quase três mil anos e cujas mulheres eram hábeis cavaleiras.

O local da descoberta situava-se em um importante trecho da Rota da Seda, principal via de comércio da antiguidade. Testes de datação por radiocarbono indicam que os túmulos têm entre 2.200 e 2.050 anos, um período de intensa circulação de mercadorias valiosas, incluindo o próprio cinábrio.

Entre os achados, chamou atenção uma sepultura contendo quatro indivíduos. Um deles, uma jovem adulta entre 20 e 25 anos, apresentava vestígios de pigmentação vermelha nos dentes. Análises laboratoriais indicaram que a substância era cinábrio misturado com uma proteína animal, possivelmente gema ou clara de ovo, para fixação da cor.

Os pesquisadores batizaram a mulher de "Princesa Vermelha da Rota da Seda", em referência à "Rainha Vermelha", uma aristocrata maia do século VII cujo corpo foi encontrado coberto de cinábrio em um sarcófago no México.

A presença do pigmento na jovem chinesa intrigou os especialistas, uma vez que Xinjiang não possui jazidas naturais de cinábrio. A substância era extraída em diferentes partes da China e da Europa e circulava ao longo da Rota da Seda, levantando hipóteses sobre sua origem exata.

Ainda não se sabe por que os dentes da mulher foram pintados, mas os cientistas sugerem que a prática pode ter relação com rituais xamânicos, status social ou estética. Registros históricos indicam que outras múmias encontradas na região exibiam tatuagens e pinturas faciais, reforçando a possibilidade de que a jovem também tenha seguido essa tradição.

Curiosamente, exames nos ossos da mulher não indicaram traços de envenenamento por mercúrio, sugerindo que a substância pode não ter sido absorvida em níveis detectáveis ou que sua exposição não foi prolongada o suficiente para deixar marcas no esqueleto.

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