CRISE

Karla Gascón, de Emília Perez, "volta atrás" em pedido de desculpas

Favorito ao Oscar 2025, longa francês se vê envolto em um dos maiores escândalos recentes de Hollywood

Karla Sofia Gascon, atriz de "Emília Perez".Créditos: Divulgação
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Em Hollywood, não se fala em outra coisa: os tuítes racistas, xenofóbicos e negacionistas da atriz trans Karla Gascón, a protagonista de "Emília Pérez". Publicações como Variety e IndieWire já classificam o acontecimento como o "escândalo Emília Pérez".

Além disso, os principais articulistas dos meios de comunicação especializados em cinema afirmam que todo o escândalo em torno de Karla Gascón e do filme "Emília Pérez" coloca o júri em uma situação complicada, pois o objetivo da Academia é fazer do Oscar 2025 uma resposta à tirania de Donald Trump. Diante de tamanha pressão, Karla Gascón rompeu o silêncio e falou com o The Hollywood Reporter, a principal publicação sobre a indústria do cinema dos EUA. Gascón se vitimizou e afirmou ser alvo de campanha de ódio.

Entre os tuítes mais controversos da atriz, está um sobre George Floyd, homem negro assassinado pela polícia americana e que se tornou símbolo do movimento Black Lives Matter, e outro sobre Adolf Hitler, o líder nazista responsável pelo Holocausto.

No primeiro caso, ela afirmou que “poucas pessoas se importavam com George Floyd, um viciado em drogas e traficante”, acrescentando que sua morte evidenciou dois extremos: “aqueles que ainda enxergam os negros como macacos sem direitos” e “aqueles que consideram a polícia assassina”. E concluiu: “Todos errados”.

Já sobre Hitler, ela fez declarações ainda mais alarmantes, reproduzindo falas preconceituosas de que “os negros são escravos e as mulheres pertencem à cozinha”. Em seguida, relativizou o nazismo ao afirmar: “Mas é minha opinião e devem respeitá-la. Não entendo tanta guerra mundial contra Hitler, ele simplesmente tinha sua opinião sobre os judeus. E assim o mundo segue”.

Confrontada sobre esses posts, Karla Sofía alegou que usou de ironia, escrevendo na terceira pessoa, como se estivesse reproduzindo falas de outras pessoas e não expressando sua própria visão.

Acusações sobre equipe de Fernanda Torres

A relação entre Karla Sofía Gascón e o público brasileiro já era delicada devido à concorrência do filme francês com "Ainda Estou Aqui" no Oscar. Mas a tensão aumentou quando, em entrevista à Folha de S. Paulo, ela acusou a equipe de Fernanda Torres de promover ataques contra ela nas redes sociais.

"Sinto muito, mas não posso mais permitir que essa campanha de ódio e desinformação afete a mim e à minha família [...] Fui ameaçada de morte, insultada, abusada e assediada até a exaustão. Tenho uma filha maravilhosa para proteger, a quem amo loucamente e que me apoia em tudo", declarou Gascón ao The Hollywood Reporter.

Ao IndieWire, Gascón afirmou que suas publicações foram tiradas de contexto. "Tirar minhas palavras do contexto ou manipulá-las para me machucar é algo pelo qual não sou responsável. Perdoe-me porque continuo indo de um lado para o outro e não posso responder a cada coisa que você traz à tona para tentar me afundar", disse.

Após ser pressionada pela imprensa, Karla Gascón voltou atrás e afirmou que foi mal interpretada e que não estava se referindo às pessoas envolvidas diretamente na produção de "Ainda Estou Aqui", mas sim aos internautas brasileiros.

Pedido de desculpas

Diante de todos esses cenários, Karla Gascón usou o Instagram para pedir desculpas pelos tuítes antigos e para afirmar que "não é racista".

"A primeira coisa que gostaria de fazer é pedir minhas mais sinceras desculpas a todos aqueles que possam ter se sentido mal com a minha forma de me expressar em qualquer fase da minha vida. Tenho muito a aprender neste mundo; a maneira como me expresso é meu principal defeito. A vida me ensinou algo que eu nunca quis aprender: está claro para mim que, por mais que sua mensagem seja uma, se você não usar as palavras corretas, ela se torna outra", inicia Karla Gascón.

A atriz continua: "Passei de uma vida normal para estar no topo da minha profissão em apenas seis meses. Agora minha responsabilidade é muito grande, pois minha voz não pertence apenas a mim, mas também a muitas pessoas que se sentem representadas e esperançosas comigo. Me agarrei ao budismo de Nichiren para mudar minha vida e a das pessoas ao meu redor para melhor, e acredito que assim foi. Não posso reparar meus atos do passado, só posso dizer que hoje não sou a mesma pessoa que há 10 ou 20 anos".

Em outro momento, Karla Gascón afirma que não é racista: "Mesmo que nunca tenha cometido nenhum crime, também não era perfeita, e nem sou agora. Apenas tento aprender e ser uma pessoa melhor a cada dia. Reconheço, entre lágrimas, que eles já venceram. Conseguiram seu objetivo: manchar minha existência com mentiras ou coisas tiradas de contexto. Qualquer pessoa que me conheça sabe que não sou racista (vão se surpreender ao descobrir que uma das pessoas mais importantes da minha vida atualmente, e que mais amo, é muçulmana) nem nenhuma das outras coisas pelas quais fui julgada e condenada sem direito a um julgamento ou a explicação da minha verdadeira intenção".

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Karla Gascón "volta atrás" em novo post

Após o pedido de desculpas, nesta segunda-feira (3), Gascon voltou a falar sobre os ataques de ódio que está sofrendo em uma publicação no Instagram, mas ao comentar sobre os casos disse que “não vai se desculpar pelo que não é”:

“Não foi bonito como vocês me trataram, assumindo como verdade o relato que pessoas doentes de ódio quiseram vender para vocês. Nem eu nem minha família somos racistas, jamais, muito pelo contrário, e ninguém nos apoiou. Vocês me conhecem há anos e tomaram como certo que alguns tweets destacando a hipocrisia, o racismo e a maldade que existem neste mundo eram meus sentimentos, e não uma denúncia.

Que uma piada exagerada era um ataque a uma instituição. Que depois de um sujeito matar um bebê com uma faca em Nice, ou de algumas meninas serem estupradas, ou por defender os direitos das mulheres, eu não colocasse "radicais" para me referir a uma religião, etc., etc.

Traduziram tudo literalmente sem querer entender o contexto e acreditaram em outros tweets falsos, juntando tudo em um bloco para amplificar o caso. Ninguém me perguntou sobre o significado nem se deu ao trabalho de verificar a que notícia eu estava respondendo e quais eram os comentários horríveis que as pessoas estavam fazendo, e a quem eu realmente estava respondendo.

Todos assumiram que eram tweets racistas e que glorificavam o nazismo sem que a cadeia completa de publicações estivesse visível para se encontrar uma explicação para os escritos... Que vergonha.

Não posso acreditar que alguém possa pensar que, em algum momento da minha vida, eu tenha exaltado a figura de algum ditador ou do nazismo, quando justamente eu não paro de alertar para termos cuidado, pois estamos voltando àqueles tempos sombrios, com pessoas que copiam esses comportamentos.

Essa publicação tem uma semana. Vocês deveriam sentir vergonha por acreditar em quem aponta o dedo e quer nos destruir. Jamais vou pedir desculpas porque é mentira, e vocês, que me conhecem, me julgaram sem me perguntar e sem me dar a chance de me defender. Está claro que o mundo está piorando. Que coincidência que passei nove meses tentando mandar uma mensagem de esperança ao mundo e, exatamente três dias atrás, de repente, sou a pior pessoa do mundo.

Tenho muitas coisas a melhorar neste mundo, minha forma de me expressar é uma delas, MAS NÃO VOU PEDIR DESCULPAS POR ALGO QUE NÃO SOU. JAMAIS. Sou responsável pelo que sinto e digo, não pelo que os outros pensam que sinto e digo, nem pelo que os outros interpretam do que eu digo”.

NOJO DA HUMANIDADE”

Veja a publicação completa:

 

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