Um estudo publicado na revista Latin American Antiquity na última terça-feira (23) narra a descoberta enigmática dos reminiscentes enterrados de uma mulher grávida e seu feto, mortos há pelo menos 1.200 anos, com sinais de espancamento, desmembramento e a inserção de outra cabeça decepada na mesma sepultura.
Essa descoberta mórbida foi feita num sítio arqueológico no Equador, e indica um possível ritual de sacrifício, de acordo com Sara Juengst, bioarqueológica da Universidade da Carolina do Norte, que falou à revista Live Science.
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No Equador, a descoberta remonta ao Período Manteño, entre 800-1532 d.C., associado à cultura manteña, a mais avançada da costa equatoriana antes da chegada dos Espanhóis à região, conhecida por suas cadeias hierárquicas complexas, atividades de agricultura e navegação, e por seus contatos eventuais com o povo inca.
Para Juengst, é possível que aquela mulher grávida, tão brutalmente morta, pode ter "ocupado uma posição de poder importante" na comunidade, e a situação do ritual responsável por enterrá-la naquelas condições indica que "seu poder precisava ser 'gerenciado'".
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A mulher ainda era jovem e tinha entre 17 e 20 anos, diz o estudo, com uma gravidez avançada, de 7 a 9 meses. É possível que ela tenha morrido entre os anos 771 e 953, de acordo com os estudos de datação por radiocarbono, e a causa da morte foi um golpe na parte frontal do crânio, indica a análise do corpo.
Suas mãos e sua perna esquerda foram desmembradas de seu corpo para o enterro, e foram encontrados artefatos no local de seu sepultamento. Entre eles, conchas de berbigão, ornamentos em meia-lua feitos de conchas de molusco da espécie Spondylus, e três lâminas de obsidiana dispostas ao redor do cadáver. Uma garra de caranguejo, além disso, foi posta sobre seu abdômen.
Os artefatos indicavam ser pelo menos dois mil anos mais velhos que o enterro, o que aponta para seu valor cultural e dá outras evidências à realização de um suposto ritual.
Já o crânio da pessoa cuja cabeça foi decepada e posta junto à mulher jovem no seu enterro pode ter pertencido a um indivíduo entre 25 e 35 anos de idade, e foi deixado ali vários séculos após o enterro original (entre 991 e 1025), de acordo com a datação de carbono feita pelos pesquisadores.
A colocação dos artefatos ao redor do corpo da mulher e em seu abdômen "sugere proteção e tratamento especial para ela e seu feto", disse Juengst à Live Science, especialmente porque o Spondylus "está associado à fertilidade e à água, e foi valorizado por muitas culturas sul-americanas".
De acordo com o artigo, há pelo menos duas causas estimadas para um sacrifício desse tipo:
A primeira hipótese se trata dos efeitos intensos do El Niño naquela época e naquela região, que podem ter impactado o andamento das colheitas e demandado um sacrifício de fertilidade a fim de garantir a retomada da produção.
Ou, em outro caso, o poder social da mulher, sua influência política, poderia ter levado ao seu assassinato por um rival. A sociedade Manteño dava às mulheres um status social considerável, e, se aquela mulher fosse alguém importante o suficiente, poderia ter sido alvo de uma conspiração; por estar grávida, além disso, seu filho também precisaria ser eliminado.