O novo filme de Walter Salles, "Ainda Estou Aqui", foi ovacionado no Festival de Veneza e tem arrancado uma série de elogios para a direção do cineasta e também para a atuação de Fernanda Torres, que dá vida à protagonista da trama, Eunice Paiva, que busca pelo corpo de seu marido morto pela ditadura brasileira, Rubens Paiva.
Para se ter uma ideia, a revista "Variety", uma das mais importantes do mundo sobre cultura pop, classifica a atuação de Fernanda Torres como "deslumbrante".
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"Talvez, se o foco fosse apenas na perda de Rubens - um pai e marido amado que foi movido por sua consciência para ajudar os oponentes do regime em segredo - o tom de nostalgia que encharca o filme se tornaria piegas. Mas o verdadeiro foco de Salles (e o do livro do filho de Rubens, Marcelo, no qual o filme se baseia) é a resiliência, especialmente como demonstrado por Eunice, que está inteiramente encarnada na soberba atuação de Torres", diz trecho da crítica da Variety para "Ainda Estou Aqui".
Com tal recepção, "Ainda Estou Aqui" se tornou uma das principais apostas para o Oscar 2025: Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Cabe destacar que ainda não saiu o longa-metragem indicado pelo governo brasileiro. A seleção será anunciada no dia 23 de setembro.
A própria "Variety" destaca que "Ainda Estou Aqui" é um dos cinco destaques para o Oscar 2025 de Melhor Filme Estrangeiro, ao lado de "Emília Perez", da França; "All We Imagine as Light", da Índia; "Kneecap", da Irlanda; e "The Seed of a Sacred Fig", da Alemanha.
A última vez que o Brasil disputou a categoria de "Melhor Filme Internacional" no Oscar foi com "Central do Brasil", também de Walter Salles, na edição da premiação de 1999.
Mas, além das apostas em "Ainda Estou Aqui", o nome de Fernanda Torres também figura entre os possíveis nomes para disputar a categoria de "Melhor Atriz". Nas redes, internautas têm brincado que "Fernanda Torres vai vingar sua mãe, Fernanda Montenegro", que concorreu na categoria por "Central do Brasil" contra Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado"). A estadunidense levou, mas até mesmo a imprensa dos EUA considerou a premiação "injusta".
Quem foi Eunice Paiva
O filme de Walter Salles é uma adaptação do livro de Marcel Rubens paiva, que leva o mesmo nome, “Ainda Estou Aqui” (Afaguara, 2015), onde ele relata a memória de sua mãe em duas etapas: a luta contra a ditadura e, posteriormente, contra o alzheimer.
Eunice Paiva (1929–2018) foi uma advogada e ativista brasileira, conhecida por sua coragem e dedicação à luta pelos direitos humanos, especialmente durante e após o período da ditadura militar no Brasil. Nascida em São Paulo, Eunice se formou em Direito e, embora tenha exercido a profissão, seu papel mais marcante foi como defensora incansável da verdade e da memória de seu marido, o deputado Rubens Paiva, que foi torturado e assassinado pelo regime militar em 1971.
Rubens Paiva, um político atuante e crítico da ditadura, foi sequestrado por agentes do Estado e dado como desaparecido. Ao longo de décadas, Eunice buscou respostas sobre o destino de seu marido, confrontando a impunidade e o silêncio que cercavam os crimes cometidos pela ditadura. Sua trajetória a colocou como uma voz importante na luta contra as violações de direitos humanos e pelo esclarecimento dos crimes de Estado no Brasil.
Eunice também atuou como militante pelos direitos dos indígenas, sendo pioneira no tema na década de 1980, e colaborou com a elaboração de propostas para a nova Constituição de 1988. Mesmo enfrentando as dificuldades de criar seus cinco filhos após o desaparecimento de Rubens, ela manteve firme seu compromisso com a justiça e com a defesa dos oprimidos.
Sua história é de força e resiliência, e ela continua sendo lembrada como uma das grandes figuras na luta contra os abusos do regime militar, sendo uma referência moral para muitos na busca por justiça e reparação histórica no Brasil.