De acordo com Marco Morel, historiador e doutor em História pela Sorbonne, pode-se traçar a existência de mais de uma dezena de projetos da França napoleônica para o território brasileiro.
Ao longo de 12 anos, no final do século XVIII, Napoleão teria feito planos de invasão ao Brasil — ou a regiões do país —, numa época em que a França desejava se tornar a maior potência mundial e em que fervilhavam os ideais promovidos pela Revolução Francesa.
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Esses ideais impactaram fortemente as colônias escravistas francesas da época, principalmente na África (além do próprio Brasil, onde ocorreram revoltas regionais e sublevações de grupos sociais, a exemplo da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana).
A Revolução Haitiana, uma das três bem-sucedidas nos processos de abolição da escravidão e independência das colônias francesas, foi motivada pelos questionamentos iluministas trazidos pela Revolução, que rompiam com a estrutura que outrora sustentava o Antigo Regime e inauguravam conceitos como o de igualdade universal e cidadania.
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Em seu livro, "O dia em que Napoleão quis invadir o Brasil", Morel cita arquivos de 200 anos atrás que indicam 12 anos de planos napoleônicos para invadir o Brasil, mais importante colônia portuguesa, de 1796 a 1808.
Os planos queriam fazer do Brasil independente ou torná-lo colônia da França, de acordo com o historiador, e pelo menos quatro deles citam a abolição da escravidão.
"Se o Brasil ou uma parte do Brasil fosse incorporado à França", ele diz, "teria sido também decretada a abolição [da escravidão], quer dizer, quase cem anos antes da Lei Áurea [de 1888]".
No entanto, as guerras travadas pela França em vias de expansão e o temor da Inglaterra, aliada de Portugal e maior potência marítima da época, foram motivos para que os planos não saíssem do papel.
Não se pode saber se, caso Napoleão tivesse sido bem-sucedido em invadir o Brasil (isto é, se não tivesse, ao invés disso, pressionado a corte portuguesa a fugir para cá, ou perdido o poder em 1815), a escravidão teria sido realmente abolida mais cedo; mas, na opinião do historiador, os rumos da história ocidental teriam mudado completamente.
Se o eixo de poder tivesse sido concentrado nas Américas, mesmo que brevemente, o Brasil não seria como existe hoje — e talvez nem mesmo seus vizinhos continentais, como a Argentina.