SAMBA

A mais bela canção sobre a paternidade da música brasileira

Canção de 1977 marca como um dos mais emocionantes sambas da história do Brasil

João NogueiraCréditos: TV Brasil
Escrito en CULTURA el

Qual a maior música sobre paternidade do cancionário brasileiro? Talvez seja "Espelho", de João Nogueira, um dos sambas mais emblemáticos da música brasileira.

A composição do sambista com Paulo César Pinheiro se tornou marcante por contar a história de paternidade no contexto de uma família pobre no Brasil. 

A canção, que também exalta as raízes afro-brasileiras, se tornou um hino atemporal, tocando o coração de gerações, incluindo pelo próprio filho de João Nogueira, Diogo.

No Dia dos Pais, "Espelho" ressoa como uma homenagem profunda e sincera à conexão entre pai e filho, um laço indissolúvel que transcende o tempo e as dificuldades.

Ouça:

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar