JUKEBOX DO APOCALIPSE

Spotify: produtor explica artistas com milhões de plays que não tocam nem pra 500 pessoas

Felipe Vassao desvenda o grande cassino que viraram as plataformas de música por demanda, onde o sucesso passa longe da construção de uma carreira

Felipe Vassao.Créditos: Reprodução de vídeo
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O produtor musical, músico e compositor Felipe Vassao atua no mundo da música há pelo menos trinta anos. Veterano tanto nos meandros da composição, gravação e apresentação quanto na distribuição de música, tem milhares de seguidores em sua conta do Instagram, onde costuma fazer comentários pertinentes.

Em uma postagem desta quarta-feira (24), Vassao aponta para um fenômeno que intriga músicos e ouvintes atentos. Por que há perfis de bandas que são praticamente desconhecidas do público, mas que têm milhares, muitas vezes milhões de execuções em plataformas por demanda, entre elas o Spotify?

A resposta, por mais incrível que possa parecer, está na capacidade de manipular o algoritmo, o mais novo e intrigante mistério destes novos tempos. Várias empresas especializadas fornecem este tipo de serviço e, o que é mais impressionante, cobram muitas vezes pela capacidade de gerar execuções em um perfil.

A jukebox do apocalipse

Vassao avisa que “o Spotify está transformando o mercado musical num cassino”. Segundo ele, “você lança uma música como quem joga um dado e se dá sorte de cair nas graças da curadoria de playlist, se o algoritmo te ajudar, sua música dá uma rodada e você ganha um troco. Se der azar, se fxdeu. Lançou uma música e ninguém ouviu”, alerta.

O produtor vai mais longe:

“Vamos lembrar que no cassino a casa nunca perde, né? O Spotify tá sempre ganhando dinheiro. Ele cobra pra colocar a música no ar e cobra pra entregar essa música pros ouvintes pagantes. E as grandes gravadoras também ganham porque elas são sócias do Spotify”, lembra.

Vassao afirma que “o que acontece nessa lógica de cassino é que não importa o que você lança, mas o quanto você lança. Tem que tá sempre rodando a roleta do algoritmo. E essa mentalidade faz com que os artistas não construam uma carreira, uma obra, não cultivem uma base de fãs”. O produtor destaca que “o cultivo leva tempo, dedicação, atenção. Uma construção quase impossível nesse cenário. E, ó, eu não tô falando que o Spotify tem que bancar a carreira dos músicos. Nenhum artista nunca viveu de venda de discos. Não é isso que eu tô falando, mas essa lógica de funcionamento destrói qualquer possibilidade real de correr risco. Todo mundo lançando, lançando, lançando tentando manter uma relevância artificial, jogando o anzol pra ver se pesca uns milhões de plays.

“Isso não é construir uma obra, uma história”, desabafa ele. “É só uma coleção de lançamentos, alguns com milhões e plays, mas que não conseguem atrair 500 pessoas pra uma casa de show. Estão só alimentando a jukebox do apocalipse. O mundo tá acabando e a gente tá malhando ouvindo playlist do Spotify”, encerra fazendo piada com as listas de músicas das academias.

Veja a postagem abaixo: