Músicas negacionistas estão sendo sugeridas aos usuários da plataforma de música Spotify. A crítica veio dos próprios ouvintes através das redes sociais. Os conteúdos controversos incluem letras que questionam resultados de eleições e disseminam teorias de conspiração sobre o governo Lula.
A informação foi confirmada pelo portal The Intercept Brasil. Um dos usuários que estranharam as recomendações foi o programador paulistano Vinícius Ferreira, de 32 anos, que teve uma surpresa inesperada em junho deste ano. Ao selecionar uma versão de Zeca Pagodinho para o clássico samba “Brincadeira tem Hora” no Spotify e deixar a plataforma reproduzir outras faixas automaticamente, ele não esperava o que viria a seguir.
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Uma música desconhecida começou a tocar na caixa de som passado alguns minutos. Sob o ritmo do samba, as palavras incisivas de um artista até então não familiar ecoaram: “Xandão tem toda culpa de o Brasil ficar desconfiado. É eles mesmos que fazem a contagem que faz o resultado da apuração. Ninguém mais pode desconfiar das urnas, virou um crime na nossa nação. Perdeu mané, o povo tá desconfiado e ninguém mais bota fé nesse TSE”, cantava Boca Nervosa, autor de jingle de Jair Bolsonaro em 2022.
Ele registrou um vídeo da tela de seu celular, confirmando a recomendação da música "Pagode do Barroso" pelo Spotify. Pelo menos outros sete assinantes compartilharam relatos semelhantes de terem recebido recomendações de Boca Nervosa ao ouvirem pagodes tradicionais. Um ponto a se notar é que desde maio de 2022 o Spotify estabeleceu uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater a desinformação nas eleições.
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Sportify firmou acordo com o próprio TSE em 2022
Em junho de 2023, meses antes do lançamento de "Pagode do Barroso" em setembro do mesmo ano por Edmar Marques da Silva, conhecido como Boca Nervosa, o compositor já havia apresentado uma música que abordava o julgamento do TSE que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível.
Em suas letras, o sambista faz afirmações claramente infundadas, como a alegação de que o TSE, institutos de pesquisa eleitoral e Alexandre de Moraes teriam "apoiado" Lula. Além disso, ele espalha desconfiança sobre o processo eleitoral, insinuando que nem Jesus Cristo poderia derrotar o candidato petista.
Nos termos do acordo com o TSE, o Spotify comprometeu-se a implementar recursos destinados a guiar os usuários para informações relevantes sobre as eleições e a remover conteúdos que comprometessem a integridade do processo eleitoral. Além disso, uma cláusula destacada nos termos de uso do serviço de streaming proíbe explicitamente os usuários de publicar conteúdos que busquem manipular ou interferir nos processos eleitorais. Isso inclui produções que distorçam de maneira inadequada os processos cívicos e desincentivem a participação eleitoral.
O Intercept entrou em contato com o Spotify e enviou exemplos das músicas de Boca Nervosa que aparentemente descumpririam as regras da plataforma. Durante a ligação telefônica, um assessor de imprensa da empresa comunicou que a plataforma "revisou conteúdo das músicas mencionadas" e decidiu manter as faixas em seu serviço. O portal também fez tentativas de contato com Boca Nervosa, porém não recebeu resposta.
*Com infomações de Intercept Brasil