ARQUIVOS HISTÓRICOS

Documentarista revela apoio de Israel e EUA em genocídio com 200 mil mortos na Guatemala

Arturo Albizures produziu documentários que resgatam a memória dos massacres ocorridos entre 1960 e 1996 no país da América Central

Cineasta Arturo Albizures foi premiado no 21º Festival Internacional do Cinema Latino-Americana e do Caribe.Créditos: Reprodução/Vermelho
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A memória histórica da Guatemala está sendo reconstruída pela Associação para a Comunicação, a Cultura e a Arte (Comunicarte), uma organização de direitos humanos fundada pelo cineasta Arturo Albizures e seu amigo Federico Boris Hernández Herrera na década de 80. O documentarista, que foi premiado no 21º Festival Internacional do Cinema Latino-Americana e do Caribe em Cuba, é um dos principais braços dessa reconstrução.

Em uma entrevista recente ao portal Vermelho, Albizures faz uma comparação entre os atos cometidos por Israel contra a população da Guatemala e os ataques que ainda estão sendo realizados na Faixa de Gaza, onde os palestinos são bombardeados e perseguidos incansavelmente pela tropa israelense e ainda explicou a magnitude do massacre no país da América Central ao decidir documentá-la.

“Acompanhando as primeiras exumações dos cemitérios clandestinos guatemaltecos no começo dos anos 90, tomamos a decisão de tornar conhecidos os mais de 600 massacres promovidos pela ditadura militar com o apoio de assessores e armas dos Estados Unidos e de Israel. Uma repressão horrorosa que, entre 1960 e 1996, provocou mais de 200 mil mortes e 45 mil desaparecidos, entre eles cinco mil crianças. De lá para cá, já são mais de uma centena de documentários para resgatar a memória, a verdade e a justiça em nosso país”, afirmou ele.

‘Criar arquivos históricos com testemunhos de quem havia sido perseguido’

Os dois tinham o objetivo de formar um arquivo histórico com depoimentos daqueles que haviam sido perseguidos em 1954 e 1960, período em que ocorreu a ditadura na Guatemala. Para isso, eles foram às comunidades onde ocorreram os massacres e viajaram para Alta e Baixa Verapaz, El Petén, e para o ocidente. Ao acompanhar as comunidades, começaram a coletar imagens e registrar declarações que explicavam uma história não contada.

“Apresentamos no salão da Igreja Católica de Rabinal e o resultado foi imediato. Isso foi algo tão grande que até hoje trago comigo. Depois que aquelas pessoas assistiram aos depoimentos, quando perguntamos quem queria dar seu testemunho sobre alguém que havia sofrido ou sobrevivido a algum massacre, logo tínhamos uma fila imensa. A partir daí ficou bem marcada a dor das pessoas”, explicou Albizures. “Recebemos a denúncia de um Grupo de Apoio Mútuo e de uma organização camponesa, e a partir daí muitas petições.”

Forçados a deixar o país devido aos ataques militares, os sobreviventes eram originalmente membros de comunidades que foram em grande parte devastadas. Essas 250 mil vítimas não eram combatentes, mas civis. Os EUA e Israel aplicaram táticas de extermínio contra essa população civil. O apoio desses dois países não se limitou à entrega de armas, mas abrangeu toda a preparação para a contrainsurgência. Isso está documentado em relatórios e destacado por organizações. “Não era gente que estava ali para a guerra, eram comunidades cuja maioria foi arrasada”, disse o cineasta.

Entre os documentários que denunciam esse massacre, está “A verdade debaixo da terra: Guatemala, el genocidio silenciado” (2014), que aborda a repressão militar no município de Rabinal, em Baixa Verapaz. “Tem muitos testemunhos de sobreviventes das aldeias Rio Negro, Chichupac e Plan de Sánchez, que descrevem massacres entre 1981 e 1983”, diz ele que já produziu mais de 100 documentários. “Precisamos manter a memória viva, para que crimes como os que estão ocorrendo na Palestina nunca mais aconteçam.”

‘Como na Palestina’

Albuzires comparou o massacre da Guatemala ao da Palestina, que vem ocorrendo desde outubro de 2023, e reforçou a importância da memória histórica para combater esses crimes de Estado. “Se vemos agora as imagens da Palestina imediatamente recordamos dos testemunhos que nos foram dados na área ixil, onde os militares bombardearam onde sabiam que havia população civil. E bombardeavam, perseguiam, cercavam e bombardeavam. É igual na Palestina. Nos Dos Erres mataram as crianças na frente dos pais para que eles sofressem, tudo isso se repete agora. É algo inaceitável que em tempos “democráticos” nos sigam impondo massacres.”

Outros documentários de Albizures