A Cinemateca Brasileira, que foi tremendamente maltratada e que chegou a ser fechada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-22), teve uma noite nesta segunda-feira (3) a sua altura ao servir de palco para a pré-estreia do filme "13 Sentimentos", do cineasta Daniel Ribeiro, diretor do excelente "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho".
Pode-se afirmar que foi uma noite repleta de fortes simbolismos políticos e culturais: a Cinemateca Brasileira totalmente reformada e servindo de palco para a primeira exibição de uma comédia romântica focada no universo das masculinidades gays e isso menos de 24 horas após a realização da 28ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo que, além de colocar milhões de pessoas nas ruas, ressignificou as cores da bandeira brasileira, até então sequestrada pela extrema-direita e fundamentalistas.
Te podría interesar
Masculinidades gays e amores digitais
Com uma narrativa ágil e bem-humorada, acompanhamos a trajetória de João (Artur Volpi), que após terminar uma relação de 10 anos tem de voltar para a "vida real", que agora se dá, em boa medida, nos aplicativos de encontro.
No entanto, além de lidar com o fim de uma relação que durou uma década, João também vai lidar com a falta de grana, pois, assim que volta de viagem, recebe a mensagem que o financiamento para o seu primeiro longa-metragem está suspenso e que o roteiro precisa ser melhorado para disputar novos editais.
Te podría interesar
Com a meta de revisar o seu roteiro, o filme transita pela metalinguagem e acompanhamos a construção de um filme dentro do filme, no caso, João tentando editar a sua vida como se fosse o roteiro de algum projeto. Obviamente, tal missão está fadada ao fracasso.
A partir desse não lugar no mundo, João então inicia a sua aventura pelos aplicativos de encontro e, com isso, o roteiro de Daniel Ribeiro faz um incrível mergulho nas masculinidades gays, mas também em um Brasil que começa a voltar a respirar após o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e de uma pandemia que paralisou o planeta Terra.
Esperança e um outro mundo possível
Daniel Ribeiro conseguiu realizar com o seu filme "13 Sentimentos" algo bem difícil quando se trata de uma comédia romântica: desde o primeiro segundo da produção sabemos em que lugar político ele está, pois, nos primeiros segundos da produção, quando João entra em seu apartamento, o primeiro enquadramento do diretor é a bandeira do Brasil cor-de-rosa e com as cores da bandeira do arco-íris. Um outro país quer surgir (ou ressurgir).
Além de alguns símbolos presentes ao longo do filme, o texto de Daniel Ribeiro também consegue lançar na tela duas questões do nosso tempo pós-pandemia: a perda do poder de compra e a consequente precarização de uma série de setores do mercado de trabalho e as relações afetivas mediadas pelas plataformas digitais.
Por fim, "13 Sentimentos" é uma comédia romântica mergulhada nas masculinidades gays e que, mais do que discutir os modos de relações afetivas e sexuais e sua mediação pelos aplicativos e redes sociais, também pretende, ao modo de Paulo Freire (1921-1997), esperançar, ou seja, colocar em prática “o ato de se levantar, ir atrás, construir, não desistir, levar adiante e se juntar com os outros para fazer de outro modo" e construir um outro mundo possível.
"13 Sentimentos" estreia nos cinemas brasileiros no dia 13 de junho. O diretor do longa, Daniel Ribeiro, conversou com a Fórum sobre o seu novo filme. Confira no vídeo abaixo a íntegra da entrevista: