Um dos maiores nomes da dramaturgia nacional, Fernanda Montenegro se somou, nesta sexta-feira (30), ao coro de artistas que vêm denunciando o descaso do governo Bolsonaro com a cultura nacional e, em especial, com a Cinemateca Brasileira.
Um dos galpões da Cinemateca, em São Paulo, foi atingido por um incêndio nesta quinta-feira (29) que comprometeu mais de 500 obras.
O órgão é vinculado à secretaria de Cultura do governo federal, comandada por Mário Frias, e responsável preservar a memória do audiovisual no Brasil. Em seus galpões, armazena mais de 250 mil rolos de filmes e um milhão de documentos.
"O incêndio na Cinemateca em São Paulo é uma tragédia anunciada. Toda a nossa cultura das artes sofre um cala boca", disse Fernanda Montenegro em vídeo publicado nas redes sociais.
"Mas vamos renascer, tenho certeza. Nós temos certeza. Das cinzas, vamos renascer. É segredo o eterno retorno, das artes, então? Um país não existe sem cultura ligada às artes", prosseguiu a atriz.
Assista.
Mais cedo, a atriz e humorista Samantha Schmutz já havia feito um desabafo nas redes sociais sobre o assunto.
"Cara, é muito triste o que está acontecendo com o nosso cinema, com a nossa cultura. Fico pensando que as pessoas, os artistas que apoiam esse governo, que ajudaram a eleger esse governo, que fazem cinema, estão quietas. Essas pessoas, que usurpam da arte para fazer somente coisas periféricas, usam da arte somente para fazer publis, capas, presenças, eventos, mas não estão nem aí para o cinema nacional…Essas pessoas deveriam ter vergonha na cara e nunca mais pisar em um set de filmagens, nem para fazer figuração, que fosse", disse.
Abandono
A Cinemateca Brasileira atravessa uma severa crise financeira e foi abandonado pelo governo Bolsonaro. Em agosto de 2020, a mando do presidente, a Polícia Federal foi à sede do órgão e tomou as chaves da instituição. Desde então, o local está fechado e sem funcionários trabalhando.
No fim do mesmo ano, o secretário especial de Cultura, Mário Frias, disse que seria publicado um edital para que uma Organização Social (OS) assumisse os trabalhos do órgão, o que até agora não foi feito.
Em abril de 2021, então, trabalhadores da Cinemateca divulgaram um manifesto em que denunciavam o descaso do governo Bolsonaro e alertavam sobre o risco de incêndios.
“A Cinemateca Brasileira segue fechada desde agosto de 2020, quando representantes do Ministério do Turismo retomaram as chaves da Organização Social que a geria. Desde então, não há corpo técnico contratado, o acervo segue desacompanhado e não há qualquer informação sobre suas condições. Por esse motivo, lançamos um alerta acerca dos riscos que correm o acervo, os equipamentos, as bases de dados e a edificação da instituição”, diz um trecho do documento, citando que “o risco de um novo incêndio é real”.
“Hoje, após quase oito meses sem treinamento das equipes de limpeza, segurança e bombeiros, sem técnicos especializados para acompanhamento do acervo, vivemos uma tragédia: a morte silenciosa de milhares de documentos únicos, filmes domésticos, cinejornais, telejornais, obras do cinema e da televisão. Tememos pela morte da memória social, histórica, cultural, cinematográfica e audiovisual brasileiras. A Cinemateca Brasileira é uma instituição complexa, que demanda constância de recursos e atuação de sua equipe técnica especializada. Perante o quadro atual, pleiteamos o imediato retorno dos trabalhadores a seus respectivos postos de trabalho, cuja experiência é crucial para a recuperação da instituição”, prosseguiram os trabalhadores à época.
Leia a íntegra do manifesto aqui.