“No Brasil, segundo informações, os tópicos mais comumente alvo de censura estão relacionados a questões de gênero e sexualidade, muitas vezes usados para estimular o pânico moral com base em notícias falsas”, informou Farida Shaheed, relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre documento que reúne censuras a livros por governos no mundo.
O relatório ainda será submetido aos governos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU durante a sessão de julho. Nele, também são citados o fundamentalismo religioso presente nos Estados Unidos e o governo húngaro de extrema direita de Viktor Orbán. A informação é do jornalista Jamil Chade, do UOL.
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De acordo com a relatora da ONU, temas fundamentais como racismo, cultura afro-brasileira, história e cultura indígena, liberdade religiosa, exploração colonial, ditadura militar, teoria da evolução, vacinação, crise climática e destruição ambiental também se tornam “motivos” para a censura no Brasil. No entanto, quando se discute sexualidade e gênero, a quantidade de obras censuradas é maior, até em outros países.
Embora o relatório da ONU não mencione nomes, o caso do escritor Jeferson Tenório, que ainda sofre ataques da extrema direita, ganhou destaque nos últimos meses. O mais recente, do récém-falecido cartunista e escritor Ziraldo, “O Menino Marrom”, também foi censurado há poucos dias após um pastor filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicar em suas redes que o livro “não diz nada sobre o racismo, induz as crianças a fazer pacto de sangue cortando o punho”.
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Uma reportagem da Fórum reuniu todos os livros que foram retirados de bibliotecas, eventos e escolas por governos de extrema direita aliados ao bolsonarismo. Apesar da Constituição Federal garantir no Art. 1ª a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, o Brasil continua vivendo um momento de crescente censura a livros.
O relatório da organização ainda cita os EUA, onde pelo menos sete estados silenciaram o ensino de orientação sexual e identidade de gênero em sala de aula através de leis repressivas. Em alguns casos, livros que abordam esses temas foram removidos à força de escolas e bibliotecas públicas. “Mais de 20 estados decretaram restrições contra a Teoria Crítica da Raça, o ensino do racismo estrutural e da desigualdade de gênero. As restrições aumentaram para abranger o feminismo negro e as estruturas que abordam a desigualdade estrutural", diz o trecho.
O governo do Quênia criminalizou a educação sobre temas LGBTI, silenciando o debate. Na Hungria, por exemplo, o governo ultraliberalismo de Órban está usando seu poder para controlar a academia e silenciar pesquisas que contrariam sua agenda. O fechamento da Universidade da Europa Central, a proibição dos estudos de gênero e a perda de autonomia da Academia de Ciências são alguns dos exemplos citados no relatório.
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