O pesadelo sofrido pela escritora e poeta Roseana Murray, 73, atacada por três cachorros da raça pitbull enquanto caminhava, no início deste mês, próxima a sua casa em Saquarema (RJ), não será respondido com ódio e mágoa. Muito ao contrário.
A escritora afirmou que, em agradecimento à equipe do Hospital Alberto Torres, em São Gonçalo (RJ), ela pretende fazer um sarau de poesia no local. Além disso, ela também vai presentear cada um dos funcionários que cuidou dela com um livro de sua autoria.
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"Irei presentear cada um que cuidou de mim com um livro meu. Autografado com a mão esquerda", disse em uma postagem no Instagram. "Este hospital é uma casa muito especial. Ouço as histórias dos enfermeiros e enfermeiras, troco com elas as minhas histórias, trocamos galáxias de amor", disse a escritora.
Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibida neste domingo (14), Murray disse: "A vida vai continuar. Eu não morri."
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Entre seus planos de recuperação, segundo ela, está aprender a escrever com a mão esquerda.
A extrema violência do caso parece ter criado uma aura de afeto e arte na família da escritora.
Um dos filhos, o violonista Guga Murray, está criando um movimento chamado Ministério das Belezas Colaterais.
"Mesmo nos piores cenários há que buscar a beleza. Esse é o nosso ofício. E a paz acima de tudo", disse ela.
O hábito de espalhar beleza não surgiu agora, após o ataque. Roseana tem o habito de abrir as portas de sua casa, em Saquarema, para o encontro literário "Café, Pão e Texto", cujos participantes são alunos de escolas públicas da cidade. Os grupos compartilham narrativas e poesias em torno de uma mesa com sucos, café, pães e bolos servidos por ela.
"Quando as crianças vão embora, deixam na casa um rastro luminoso de alegria", ela escreveu após um encontro realizado no dia 14 de março.
O que aconteceu
Roseana foi atacada pelos cães quando saía de casa, por volta das 6h, para uma caminhada em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio, hábito que mantinha diariamente. No ataque, ela teve o braço e a orelha direita arrancados pelos animais. Gravemente ferida e desmaiada, a escritora foi arrastada pelos cães por cerca de 5 metros.
Após o ocorrido, ela foi levada de helicóptero para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, na Região Metropolitana do RJ. Ela passou por uma cirurgia no local.
Em nota neste sábado (13), a direção do hospital informou que o estado de saúde da escritora se mantém estável, com boa evolução. “A paciente está lúcida, conversando e se alimentando normalmente.” Não há, entretanto, previsão de alta. Ela está sendo acompanhada por neurocirurgião, cirurgião geral, cirurgião plástico, cirurgião bucomaxilofacial, ortopedista e fisioterapeuta.
Educar os humanos
Os animais foram levados para um lar temporário após ser feita a perícia no lugar do ataque.
Os tutores dos animais, Kayky da Conceição Dantas Pinheiro, Ana Beatriz da Conceição Dantas Pinheiro e Davidson Ribeiro dos Santos, tiveram a prisão preventiva decretada no domingo (7), durante audiência de custódia.
A Justiça do Rio concedeu liberdade aos três na quinta-feira (11).
A lei estadual do Rio de Janeiro 4.597, de 2005, determina que animais das raças pitbull, fila, doberman e rotweiller só circulem por locais públicos - como ruas, praças, jardins e parques -, sendo conduzidos por maiores de 18 anos, usando guias e focinheira apropriados.
Ao comentar o caso ao programa Repórter Brasil, da TV Brasil, o presidente da Comissão de Defesa dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), Reinaldo Veloso, disse que os animais não devem ser o centro da discussão, e sim a responsabilização do tutor. “É importante que a sociedade saiba que não é questão de matar os animais, mas educar os humanos.”
“Os humanos é que têm que seguir a legislação vigente. O Brasil tem que deixar de ser um país de faz de conta e as pessoas precisam respeitar a legislação. A legislação é clara e diz que todos os animais de grande porte, como fila, rottweiler e pitbull, têm que andar em áreas comuns, que as pessoas frequentam, com focinheira, coleira, guia. E que seja confortável para os animais”, disse Veloso.
A escritora e sua obra
Roseana Murray é formada em Literatura Francesa pela Aliança Francesa, Universidade de Nancy. Publicou cerca de 100 livros de poesia infanto-juvenil publicados e recebeu prêmios como o da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCA), da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e da Academia Brasileira de Letras (ABL).
A poetisa também faz parte da Lista de Honra do Conselho Internacional sobre Literatura para Jovens (Ibby, na sigla em inglês), da qual a FNLIJ é representante.
Com informações da Folha