CARLOS GIANNAZI

Teatro Oficina: “Grupo Silvio Santos cometeu um crime contra o patrimônio histórico e cultural de SP”, diz Giannazi

O deputado estadual Carlos Giannazi falou com exclusividade sobre representação que pede ao Ministério Público que investigue criminalmente o emparedamento dos arcos

Arcos do Teatro Oficina emparedados.Créditos: Reprodução/Representação Carlos Giannazi, Celso Giannazi e Luciene Cavalcante ao MPSP
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Os artistas e trabalhadores do Teatro Oficina se surpreenderam na manhã desta segunda-feira (5) quando chegaram ao local e encontraram os arcos que dão acesso ao interior do teatro completamente bloqueados por um muro de tijolos e cimento erguido sobre a passagem. O emparedamento, segundo eles, foi feito por funcionários do Grupo Silvio Santos, que a décadas disputa o terreno.

Além do emparedamento, também foi retirada uma escada azul de metal que liga o teatro ao terreno ao lado, o objeto propriamente dito da disputa judicial que envolve o Grupo Silvio Santos e o Teatro Oficina.

Nesse contexto, os deputados estaduais Carlos Giannazi (Psol) e Luciene Cavalcante (Psol), e o vereador Celso Giannazi (Psol), entraram com uma representação no Ministério Público pedindo a retirada imediata dos tijolos, a recolocação da escada azul e a intimação dos órgãos responsáveis pelo tombamento do teatro para que se manifestem sobre o caso. O documento também pede o pagamento de indenização à cidade de São Paulo pelos danos causados a ser revertida para a construção do Parque Bixiga, uma antiga reivindicação do dramaturgo Zé Celso, morto em 2023 e fundador do Teatro Oficina.

À Fórum, Carlos Giannazi falou com exclusividade sobre a representação protocolada junto ao MPSP. Para ele, o que foi feito na última madrugada foi um verdadeiro “crime” contra a cidade de São Paulo.

“O Grupo Silvio Santos cometeu um crime contra o patrimônio histórico e cultural de São Paulo. Um crime gravíssimo e nós vamos tomar mais providências além de acionar o Ministério Público. Iremos convocar na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal os representantes do grupo para que expliquem essa agressão ao teatro Oficina”, disse Giannazi.

Na representação os parlamentares apontam que o emparedamento do teatro desrespeita decisão judicial que obriga a autorização dos órgãos responsáveis pelo tombamento do local para que uma obra dessa natureza fosse feita. A disputa é oriunda de 2014, quando o Grupo Silvio Santos pediu justamente a retirada da escada  e o emparedamento daquele pedaço do teatro a fim de separá-lo do restante do terreno reivindicado. Em 2019 a Justiça deu ganho de causa ao dono do SBT, concedendo a retirada da escada e condicionando o emparedamento a uma autorização dos órgãos de tombamento.

"Se é verdade que existe autorização judicial para a retirada da escada, também é verdade que o momento escolhido para esse ato - exatamente quando se aguarda a decisão do juiz sobre o pedido de suspensão do processo - causa estranheza e surpreende pela precipitação. De outra parte, o fechamento da mencionada abertura foi feito sob o arrepio de uma determinação judicial, pois o posicionamento do MP a esse respeito é o de que se aguarde a autorização prévia dos órgãos responsáveis pelo tombamento, o que efetivamente não ocorreu. Em outras palavras, existe a possibilidade de que tal fechamento viole as regras do referido tombamento. Por essa razão, o Teatro Oficina pleiteará hoje ao Juiz que sejam apuradas as responsabilidades do Grupo Silvio Santos pela possível violação às referidas regras", diz nota pública da Assessoria Jurídica do Teatro Oficina reproduzida na íntegra na representação dos parlamentares.

Giannazi vai nesse sentido, mas além. Ele explica que mesmo com as sucessivas vitórias do Grupo Silvio Santos na Justiça, ainda existe a possibilidade de que a área do entorno do Teatro Oficina possa, enfim, ser transformada no Parque Bixiga. Segundo o parlamentar, acordos entre as partes e financiamento já estariam em estágio avançado. E seria por essa razão que o GSS empreendeu o que definiu como uma "agressão" ao Teatro Oficina.

“Eles jamais poderiam ter colocado aqueles blocos. Fecharam uma parte do teatro com blocos de concreto e cimento, nos arcos do Teatro. Trata-se de um patrimônio nacional, estadual e municipal, então é muito grave o que o Grupo fez. Talvez num momento de desespero porque sabe que a área provavelmente será desapropriada. Já temos acordo com o Ministério Público e a Prefeitura, incluindo a verba, então a tendência é que a área seja desapropriada para a construção do Parque Bixiga. Mas o Grupo Silvio Santos tem que ser punido e responder criminalmente por essa agressão ao patrimônio histórico e cultural da nossa cidade”, afirmou.