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James Dean, morto há quase 70 anos, pode “estrelar” novo filme

Entenda como inteligência artificial está trazendo atores “de volta à vida” e as polêmicas dessa nova tecnologia

O ator James Dean no filme "Juventude Transviada".Créditos: Flickr
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O ator James Dean, morto em um acidente de carro aos 24 anos, em 1955, pode ser “ressuscitado” nas telas de cinema. Nos últimos anos, dois projetos planejaram usar a imagem do astro falecido como protagonista, o que gera debates em Hollywood, que reverberam, inclusive, na atual greve do sindicato dos atores (SAG-AFTRA), que já dura quase dois meses.

Dean, apesar de ter estrelado apenas três filmes em vida, virou um ícone da rebeldia para as gerações que o seguiram. Por essa ótica, é possível afirmar que ele permanece vivo em seus trabalhos, mas executivos de Hollywood tentam transformar essa afirmação subjetiva em realidade.

A primeira tentativa foi anunciada em 2019. A produtora Magic City Films obteve autorização da família de Dean para usar sua imagem no filme “Finding Jack”, um drama sobre a Guerra do Vietnã. Após reações negativas do público e de atores norte-americanos, o projeto foi eventualmente cancelado.

Agora, em um projeto anunciado em 2021 e em desenvolvimento até hoje, James Dean pode assumir o protagonismo de um longa mais uma vez, dessa vez em “Back to Eden”, descrito como uma ficção científica na qual "uma visita fora deste mundo para encontrar a verdade leva a uma viagem pela América com a lenda James Dean". Quem descreveu o projeto foi Travis Cloyd, executivo-chefe da agência de mídia imersiva WorldwideXR (WXR), que será responsável por recriar o ator digitalmente, em entrevista à BBC.

Os direitos de imagem e semelhança de James Dean são representados pela WRX e sua empresa parceira CMG Worldwide. Antes do astro de “Juventude Transviada”, atores como Carrie Fisher e Paul Walker foram recriados digitalmente para poderem continuar dando vida a papéis que já eram seus. Em julho deste ano, a cantora Elis Regina também foi "ressuscitada" em um comercial para a marca Volkswagen.

Como o artista é 'ressuscitado'

Para trazer essas personalidades “de volta à vida”, são criados clones digitais a partir de imagens pré-existentes de seus antigos trabalhos. Essas imagens são digitalizadas, sintonizadas em alta resolução e processadas por uma equipe de especialistas digitais utilizando tecnologias avançadas, explicou Cloyd.

Áudio, vídeo e inteligência artificial são adicionados até que esses materiais se tornem blocos de construção de um clone digital à imagem e semelhança de sua inspiração real. A tecnologia é semelhante àquela usada para gerar deepfakes, que sobrepõe o rosto de uma pessoa ao corpo de outra, mas é considerada mais avançada.

Atores protestam

À época do anúncio de “Finding Jack”, muitos atores vieram à público nas redes sociais reprovar a iniciativa. Chris Evans, o ex-Capitão América do Universo Marvel disse: “Isso é horrível! Quem sabe a gente não consiga que um computador pinte um novo quadro Picasso ou componha algumas músicas novas do John Lennon. A falta de compreensão é vergonhosa.”

Elijah Wood, conhecido pela trilogia “Senhor dos Anéis”, disse apenas: “Não. Isso não deveria existir.”

Recentemente, a luta contra o uso indiscriminado de IA na indústria cinematográfica atingiu um nível ainda mais sério. Esse foi um dos principais motivos para a deflagração da greve do sindicato de atores de Hollywood (SAG-AFTRA), após uma proposta da Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP, na sigla em inglês). 

Os estúdios queriam que os atores recebessem o equivalente a uma diária para serem completamente escaneados e, assim, terem suas imagens liberadas para uso de inteligência artificial para sempre, sem a necessidade de seu consentimento. A greve se iniciou no dia 13 de julho e não tem data para encerrar.

O que diz a legislação

Por se tratar de uma tecnologia muito nova, não há uma legislação conclusiva sobre o tema, principalmente no Brasil. No caso da propaganda com Elis Regina, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) chegou a abrir um processo ético para avaliar a peça publicitária, mas ele foi arquivado na última terça-feira (22).

Para se proteger, algumas personalidades têm utilizado seus testamentos para tentar impedir o uso indevido de sua imagem após a morte. Um exemplo é a cantora Madonna. Após ser internada às pressas no mês passado, a artista atualizou seu testamento para proibir que, depois de morta, sua imagem seja utilizada para simulações tecnológicas (hologramas e IA).

Robin Williams, ator norte-americano, também deixou delimitações bem definidas em seu testamento sobre o uso de sua imagem, antes de morrer em agosto de 2014. Ele não pode ser digitalmente inserido em shows, filmes ou propagandas por até 25 anos após sua morte, isto é, até 2039.