A artista visual Miriane Figueira realizará uma exposição em que ressignifica a imagem da mulher negra e debate sua representação social. Chamada “Reaproprio-me de Mim”, a obra será exposta na cidade de Curitiba (PR) em agosto.
A reflexão trazida por Miriane foi resultado de sua análise do livro “Negros no Estúdio de Fotografia”, de Sandra Sofia Machado Koutsoukos, onde a imagem da mulher negra é comumente representada com nudez, o que incomodou a artista, que ressignificou as fotografias com as mulheres vestidas. Miriane também é pesquisadora sobre os assuntos na área de “Memórias e Negritude”, além de atuar como fotógrafa comercial.
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Historicamente, as mulheres negras sempre foram colocadas em uma posição subserviente, não apenas como amas de leite, como também sexualmente. Figuras como a “Globeleza” e o estereótipo da mulher brasileira com curvas exuberantes são o reflexo de uma objetificação que vai muito além do gênero feminino – as mulheres negras enfrentam a dificuldade de manter uma relação afetiva saudável em que não sejam vistas com as lentes da hiperssexualização, o que resulta na solidão da mulher negra, pois esta sofre com o racismo estrutural e racial, pesando em dobro a discriminação sofrida.
“Estou trazendo ainda mais identidade para essas mulheres, me interessa reconstruir esse imaginário porque a gente precisa de imagens positivas, a gente precisa pensar afirmação”, comenta Miriane.
As obras originais foram feitas com fotografia impressa por transfer em algodão, tinta para tecido e costura, e circularam por mais de 700 alunos de escolas públicas em Curitiba. Através do prêmio Funarte para artistas e produtores pretos e pardos, o projeto foi usado como ferramenta para aplicar os princípios da educação antirracista, prevista pela Lei nº 10.639, que inclui história e cultura afro-brasileira no grade curricular de ensino.
A exposição é continuação do projeto “Desaproprio-me de mim”. Estabelecendo uma imagem diferente dos estereótipos relacionados às pessoas negras e colocando-as em locais de liderança, visibilidade, ascensão social, a obra debate a concepção enraizada no imaginário social brasileiro e afronta, através do movimento afrofuturista, características presentes nas camadas sociais que necessitam ser desmistificadas.
"A arte não muda o mundo, acredito que existem outros lugares que precisam mudar estruturalmente para que o mundo consiga mudar, mas definitivamente ela (a arte) faz com que a gente tenha novas percepções sobre o mundo e é isso que venho propor, essa é a importância deste trabalho; trazer a possibilidade criativa para que as pessoas tenham uma válvula de escape”, completa a artista.
As obras de Miriane serão expostas em 10 regionais de Curitiba, durante 10 meses. Inicialmente, o endereço para a exposição é na Casa de Leitura Jamil Snege - Rua da Cidadania Fazendinha (Rua Carlos Klemtz, 1700 - sala 71), onde fica disponível entre os dias 01/08 à 31/08, das 8h30 às 17h30.
Em setembro, estará na regional de Santa Felicidade, na Rua Santa Bertila Boscardin, 213; no mês de outubro, a regional do Boqueirão disponibilizará a visitação na Av. Marechal Floriano Peixoto, 8430; em novembro, será a vez do Tatuquara, com as obras localizadas na Rua Olivardo Konoroski Bueno, s/n, esquina com a Rua Pres. João Goulart
Em paralelo com a exposição das obras, Miriane também promoverá um debate em mesa redonda de nome “Futuro Subjuntivo: cotas, mercado de trabalho e direito para população não branca”, que acontecerá no dia 18 de agosto, às 19hh30, na Alfaiataria Espaço de Artes, localizada na Rua Riachuelo, 274 - Centro - Curitiba/PR.