NO LIXO

Entenda o motivo de diretor teatral brasileiro para jogar fora parte do acervo pessoal

Gerald Thomas se desfez de grande parte do arquivo de 40 anos de carreira em uma caçamba de lixo da cidade onde mora, nos EUA

Créditos: Acervo pessoal - O diretor Gerald Thomas joga no lixo parte de seu acervo, incluindo correspondências com Samuel Beckett
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O diretor teatral brasileiro radicado nos Estados Unidos Gerald Thomas depositou parte do acervo acumulado ao longo de 40 anos de carreira em uma caçamba de lixo da cidade de News Paltz, a 134 quilômetros de Nova York. O desapego foi feito no fim de abril e inclui um quinto de seu acervo, com vídeos, fotografias e correspondências.

Pelas redes sociais, Thomas comentou a decisão que foi veiculada por reportagem na Folha de S. Paulo deste domingo (7).

Leyenda

"Todo mundo fica indignado e berra “COMO ASSIM? JOGAR FORA? NAAAAOOOO! GERALD !!!! NAO FAÇA ISSO ! ISSO é MUITO PRECIOSO. Mas ninguém faz nada. Minto. O Leandro Knopfholtz do Festival de Curitiba fez sim, por um ano: colaborou com mensalidades modestas e eu guardava metade num “storage” em Manhattan e o resto em casa", escreveu.

Na postagem, Thomas desabafou que não tinha mais condições de manter o acervo por razões de espaço. Ele comentou que o material ocupava dois quartos cheios do local onde mora. Ele comentou ainda que estava cansado das confusões para manter o arquivo relacionados, por exemplo, à promessas não concretizadas de compra.

"ESTOU ME DESFAZENDO DO MEU ACERVO depois de mil e uma confusões sobre compra e venda disso tudo, várias recusas, muita apatia, etc. São QUARENTA ANOS DE MEMÓRIA (e vivência) TEATRAL BRASILEIRA INTERNACIONAL INDO PRO LIXO. Desde Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Tonia Carrero, Bete, Heiner Mueller, Beckett (toda a correspondência, maquetes do show da Gal, Italo, Julian Beck, 20 óperas na Europa, 1.200 telas e desenhos, ilustrações."

O diretor teatral comentou também que está revoltado com a situação e admitiu ter ciência de que não é o primeiro artista a enfrentar adversidades. 

"ESTOU REVOLTADO (mas não serei o primeiro artista a enfrentar a merda: Victor Garcia morreu indigente, Rimbaud também."

Dificuldades com a Covid

De acordo com a matéria da Folha, o diretor brasileiro tentou vender o acervo a instituições brasileiras, mas as conversas não prosperaram. A decisão de transferir seus documentos para algum arquivo público ou privado veio com a pandemia da Covid-19. Thomas acumulou dívidas, conviveu com a ameaça de despejo e precisou desocupar seu apartamento em Manhattan. Aos 68 anos, transferiu-se para New Paltz.

Carreira internacional

Thomas inscreveu o nome a história do teatro de vanguarda com montagens de peças e óperas em 16 países. Entre dezenas de trabalhos cênicos, dirigiu "Quartett", de Heiner Mueller, e adaptou textos em prosa de Beckett, no La MaMa, em Nova York, com o aval do escritor irlandês.

A trajetória dele está vinculada a artistas brasileiros —como Sérgio Britto, Marco Nanini, Ítalo Rossi, Ney Latorraca, Fernanda Torres e Bete Coelho— e a nomes internacionais —como Julian Beck, Philip Glass e Ellen Stewart. Em 1994, sob a sua direção, Gal Costa apresentou o show "O Sorriso do Gato de Alice", em cujo clímax expunha os seios.