O documentário curta-metragem "Segunda Pele" (2023), dirigido pelo brasileiro Rodrigo Pépe, está entre os finalistas do Cannes World Film Festival, premiação independente e alternativa ao festival que ocorre em maio na França e é considerado a mais importante, ao lado do Oscar, premiação do cinema.
À Fórum, Rodrigo Pépe disse que recebeu com muita felicidade a notícia, pois, trata-se de uma mostra altamente competitiva e que recebe filmes do mundo inteiro.
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"O festival é uma iniciativa independente/alternativa de Cannes e recebe uma alta demanda de curtas de todo o mundo. Estivemos na seleção oficial, depois semifinalistas e agora finalistas. Nos sentimos muito felizes, é mais um passo na caminhada, e a cada festival que participamos é uma janela de exibição e uma oportunidade de diálogo com diferentes públicos", declarou Rodrigo Pépe.
Documentário transita entre o luto pandêmico e a infância LGBT
Historicamente, o Brasil é um país que possui uma relação delicada e dramática quando o assunto é morte e luto. Em muitas ocasiões, o tema é tratado como um tabu que não deve ser mencionado, principalmente na presença de crianças e jovens.
Essa maneira da cultura brasileira em lidar com a morte é paradoxal, visto que a morte, como diz o velho ditado, é a única certeza que se tem desde o momento em que somos despejados no mundo.
Com a pandemia, a questão da morte passou a se fazer presente diariamente na vida dos brasileiros e dos cidadãos do mundo todo. Todos os dias os telejornais apresentavam novos relatórios de mortes e contágios. Por muito tempo, eram milhares de vidas ceifadas pela Covid.
Sem direito ao funeral
Giovanna teve de lidar com a morte de seu pai por Covid no auge da pandemia, em março de 2021 e, conforme protocolos da época, não houve velório, não houve uma despedida de fato. Essa é a história que abre o documentário "Segunda Pele" (2023), dirigido por Rodrigo Pépe.
De maneira poética, o curta metragem "Segunda Pele" fala da morte e das memórias que ficam. "Invariavelmente o filme aborda morte e luto, mas num sentido mais amplo, como uma experiência que todos passamos em momentos que exigem superação, como um processo de troca de pele mesmo, em que é preciso deixar algo morrer, para outra coisa nascer", explica o diretor do filme.
Além disso, o filme de Rodrigo Pépe também transita pela infância LGBT e as várias violências que tal período da vida pode acarretar para um pequeno entendido pelo olhar do Outro como não hétero. Aqui, Pepe “deixa de ser” o diretor e se posiciona em frente às câmeras para falar sobre os primeiros anos de sua vida e uma espécie de morte e luto sobre esse tempo.
“Me colocar neste lugar de vulnerabilidade foi algo bem peculiar, principalmente porque no caso da história que compartilhei, envolvia não somente a mim, mas também a minha família”, revela Rodrigo Pépe.
Morte, luto, roupas e memória. Essa é trama pela qual o documentário “Segunda Pele” transita de maneira emocionante.
A íntegra da entrevista com o diretor Rodrigo Pépe pode ser conferida aqui.