O dia da Consciência Negra emerge como um marco significativo na luta constante contra múltiplos preconceitos que assolam a população negra e quilombola, destacando-se, entre eles, o mais presente: o racismo. Esse dia de reflexão não apenas se propõe a combater essa forma de discriminação, mas também a celebrar e aproveitar a nossa rica e diversificada cultura afro-brasileira.
Em um esforço para promover a conscientização e desconstrução de estereótipos arraigados, diversas produções audiovisuais, tanto nacionais quanto internacionais, e de diferentes gêneros, desempenham um papel fundamental ao compartilhar narrativas que instigam uma profunda reflexão sobre as complexidades das questões raciais.
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A Revista Fórum, reconhecendo a importância dessas expressões culturais, selecionou uma coleção de obras literárias, produções cinematográficas e séries que, de maneira magistral, exploram as intrincadas teias do preconceito racial na sociedade. Confira a seguir:
Livros
Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, por Maya Angelou (2018)
“Nesta obra, muitos silêncios são dito de forma tão alta, que não são somente audíveis, mas transformadores”, assim descreveu a filósofa Djamila Ribeiro sobre a obra da escritora Maya Angelou. O livro conta a história de Marguerite Ann Johnson, conhecida como Maya, uma jovem negra criada no sul por sua avó paterna, marcada pelo peso do preconceito entre os anos de 1930 e 1940. A literatura se tornou seu refúgio, permitindo-lhe expressar sua voz e escapar das limitações impostas à sua vida.
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Em sua obra, Angelou eterniza suas lembranças e descobertas, dando voz aos jovens que, como ela, enfrentaram uma vida difícil. E é difícil não sair sem ser ‘atravessado’ pelas suas palavras. Com uma prosa poética e poderosa, a obra transforma profundamente quem a lê.
O ódio que você semeia, por Angie Thomas (2018)
Ao testemunhar o assassinato de seu melhor amigo, um jovem negro, por um policial branco, a vida de Starr se transforma em um verdadeiro pesadelo. Com apenas 16 anos, ela enfrenta intensas pressões e, dotada de uma força sobre-humana, luta contra adversidades e preconceitos para buscar justiça e honrar a memória de seu grande amigo. O livro também já foi adaptado para o cinema. Assista o trailer completo aqui.
Quarto de Despejo, por Carolina Maria de Jesus (1960)
Carolina Maria de Jesus era uma figura desconhecida até a publicação de seu primeiro livro, "Quarto de Despejo". Lançada em agosto de 1960, a obra consistia na compilação de aproximadamente 20 diários escritos pela mulher negra, mãe solteira, semianalfabeta, e residente na favela do Canindé, no estado de São Paulo.
"Quarto de Despejo" obteve êxito não apenas em termos de vendas, mas também em aceitação pelo público, apresentando a abordagem mais autêntica da vida na favela. Com tradução para treze idiomas, Carolina Maria de Jesus teve reconhecimento internacional, recebendo elogios de distintos nomes da literatura brasileira, como Manuel Bandeira, Raquel de Queiroz e Sérgio Milliet.
Por um feminismo afro-latino americano, por Lélia Gonzalez (2020)
“É Lélia quem cria para mim essa identidade, essa terceira figura política, essa terceira identidade que compartilha das outras duas (ser mulher e ser negro), mas que tem um horizonte próprio de luta. Com Lélia Gonzalez, me defini politicamente para militar na questão da mulher negra”, descreve a pedagoga e fundadora do Geledés Sueli Carneiro, sobre a obra.
Organizado por Flávia Rios e Márcia Lima, "Por um Feminismo Afro-Latino-Americano" apresenta uma coletânea abrangente da obra da multifacetada pensadora Lélia Gonzalez. O livro reúne textos escritos entre 1979 e 1994, abordando o contexto democrático no Brasil e em outros países da América Latina e do Caribe.
Além de ensaios conhecidos, inclui artigos de imprensa, entrevistas, traduções inéditas e escritos dispersos, como uma carta a Chacrinha. Com uma introdução crítica, o livro também oferece uma cronologia da vida e obra da autora, destacando sua abordagem irreverente, interseccional, decolonial e popular, tornando-a um ícone do feminismo negro.
O Sol para Todos, por Harper Lee (1960)
O livro narra a história de Jem e Scout Fincher, duas crianças no sul dos EUA durante o período da Grande Depressão. Testemunhando a ignorância e o preconceito em Maycomb, cidade representativa do conservadorismo sulista, os irmãos, filhos do advogado Atticus Finch, confrontam o racismo em situações além do julgamento de Tom Robinson, um homem negro acusado injustamente.
Ao longo da trama, vivem surpresas e descobertas, aprendendo e ensinando sobre a tolerância, o respeito ao próximo e a importância de estar aberto a novas ideias e perspectivas. Com um grande valor histórico, a obra já ganhou o Prêmio Pulitzer em 1961 e deu origem a um filme, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, no ano de 1962. Assista ao trailer aqui.
Filmes, documentários e séries
Infiltrado na Klan (2018)
Filme dirigido por Spike Lee, o enredo resgata a história de Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, que realizou uma operação de infiltração na Ku Klux Klan local em 1978. Ele estabelece comunicação com os membros do grupo através de telefonemas e cartas, e, quando a presença física é necessária, envia um policial branco em seu lugar.
Após meses de investigação, Ron se aproxima do líder da seita, desempenhando um papel crucial na sabotagem de uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. Veja o trailer completo aqui.
Marighella (2019)
No filme "Marighella", dirigido por Wagner Moura, Carlos Merighella considerado pelos militares o principal opositor do Brasil, busca articular uma frente de resistência enquanto denuncia os horrores da tortura e a infâmia da censura impostas por um regime opressor. Em uma experiência radical de enfrentamento, ele age em nome de um povo cujo apoio à sua causa é incerto, ao mesmo tempo em que se esforça para cumprir a promessa de se reunir com o filho, a quem manteve distante por anos como forma de protegê-lo. Lúcio é um personagem racista e torturador, que ordena uma caça aos integrantes da ALN. Ele é uma representação de Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Dops em 1968, apontado como chefe do Esquadrão da Morte na ditadura militar.
Rota 66: A Polícia que mata (2022)
Baseada no livro do jornalista investigativo Caco Barcellos, a adaptação para a tela ficou a cargo de Maria Camargo e Teodoro Poppovic, com redação final de Maria Camargo. A direção artística é assinada por Philippe Barcinski, que também compartilha a direção com Diego Martins. Humberto Carrão assume o papel principal, interpretando Barcellos, enquanto Lara Tremouroux, Aílton Graça, Naruna Costa, Wesley Guimarães, Rômulo Braga, Juan Queiroz e Adriano Garib desempenham outros papéis centrais na trama.
Uma produção brasileira de televisão desenvolvida pelo Globoplay em colaboração com a produtora Boutique Filmes, a série estreou em 22 de setembro de 2022 na plataforma de streaming. O enredo se concentra em explorar o homicídio de três jovens residentes em São Paulo. O jornalista Caco Barcellos desvenda a existência de um grupo de assassinos que aparentemente age com a aprovação da justiça militar. À medida que a investigação avança, Barcellos se depara com um número crescente de vítimas inocentes nas periferias da cidade de São Paulo.
Invictus (2013)
O filme, lançado em 2009 e dirigido por Clint Eastwood, é baseado em fatos reais e segue a trajetória de Chester Williams, o único jogador negro e capitão da seleção sul-africana de rugby. Estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon, a narrativa centra-se na Copa do Mundo de Rugby de 1995, na África do Sul.
O filme destaca como o esporte, durante esse período, desempenhou um papel crucial como ferramenta para Nelson Mandela mitigar as divisões existentes no país. “Invictus” pode ser assistido pela HBO Max. Veja o trailer aqui.
Estrelas Além do Tempo (2016)
O filme, adaptado do livro de Margot Lee Shetterly, relata a história de um grupo de mulheres matemáticas que trabalhavam na agência espacial, que mais tarde se tornaria a NASA - Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço. Dotadas de profunda habilidade em matemática e engenharia, essas mulheres realizavam os cálculos necessários para os projetos espaciais utilizando calculadoras, "lápis e papel", em uma época anterior à introdução dos grandes computadores. A narrativa se concentra em três mulheres afro-americanas que faziam parte de um grupo segregado dentro da agência, refletindo o contexto de segregação racial nos Estados Unidos e durante a corrida espacial da Guerra Fria.
Olhos que condenam (2019)
“- Por que nos tratam assim?
– De que outra maneira nos tratariam?”
Este diálogo integra a minissérie "Olhos que Condenam", uma obra concebida, dirigida, escrita e idealizada por Ava DuVernay, renomada cineasta por trás do filme "Selma". A narrativa aborda um dos casos mais emblemáticos da história norte-americana, centrado na condenação e prisão de cinco jovens negros do bairro do Harlem. Eles foram falsamente acusados de estuprar uma mulher no Central Park em 1989.
Os questionamentos dos personagens, destacados durante a espera pela primeira audiência do caso no segundo episódio, desempenham um papel crucial ao estabelecer a principal temática e debate da produção: a invisibilidade dos jovens negros. Este grupo, historicamente marcado por altas taxas de mortalidade e encarceramento, emerge como ponto central de reflexão na trama, sublinhando as complexidades enfrentadas por essa comunidade ao longo do tempo.
Quem Matou Malcolm X? (2019)
Em fevereiro de 1965, Malcolm X, destacado ativista afro-americano no movimento pelos direitos civis, foi assassinado na cidade de Nova York. Três membros do grupo político-religioso Nation of Islam foram condenados pelo crime. O documentário "Quem Matou Malcolm X?" da Netflix apresenta uma investigação conduzida pelo historiador e ativista Abdur-Rahman Muhammad. A narrativa se baseia no depoimento de Thomas Hagan, um dos condenados injustamente.
A minissérie compreende seis episódios e revisita a jornada de Malcolm, explorando sua relação conturbada com a Nation of Islam. Além disso, reflete sobre o impacto do assassinato de uma das figuras mais proeminentes na luta pela igualdade racial afro-americana.
Cinquenta e cinco anos após serem condenados junto com Thomas Hagan, Muhammad A. Aziz e Khalil Islam (falecido em 2009) foram absolvidos pela Suprema Corte dos Estados Unidos em agosto de 2021.