ANOTHER BRICK IN THE WALL

Roger Waters é condecorado por Monica Benicio, viúva de Marielle, por defesa dos direitos humanos

Fundador da banda britânica Pink Floyd recebeu a Medalha Pedro Ernesto na Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Roger Waters ostenta placa com nome de Marielle Franco.Créditos: Paula Cosenza
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O músico britânico Roger Waters, um dos fundadores da banda britânica Pink Floyd, foi homenageado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira (27). Ele recebeu, das mãos da vereadora Monica Benicio (Psol), viúva de Marielle Franco, a Medalha Pedro Ernesto, como forma de reconhecer seu ativismo na área de direitos humanos, contra regimes ditatoriais e em defesa do povo palestino.

"Roger é um ativista incansável que usa sua voz para combater as injustiças do mundo. É um grande companheiro na luta por justiça por Marielle e Anderson e ainda tenho o privilégio de chamá-lo de amigo. Nossa cidade e nosso país têm sido palco de inúmeras desigualdades e injustiças. As pessoas que estão aqui hoje entregam suas vidas em nome de um mundo melhor", disse Monica na abertura do evento.

O homenageado arrancou aplausos do público com seu discurso, principalmente quando citou a influência da mãe na escolha de trilhar o caminho da defesa dos direitos humanos.

Créditos Paula Cosenza

"Estar aqui e ouvir todas essas histórias, das vereadoras, dos amigos da Maré e da Marielle, pra mim é muito emocionante. Não tô acostumado com esse contexto. Eu tinha 13 anos quando minha mãe me falou que ao longo da minha vida eu ia enfrentar muitas injustiças e que precisaria tomar decisões difíceis. Ela disse pra ler muito sobre o problema e se informar. Por isso que a educação é tão importante. 'Depois de fazer isso, você vai ter feito o trabalho mais difícil e aí vem a parte fácil. Fazer a coisa certa'. A minha mãe já faleceu há muito tempo e eu carrego esse presente que ela me deu”, contou.

Roger também criticou a situação do povo palestino, que hoje é alvo de uma operação de limpeza étnica por parte do Estado de Israel.

"Esse país é um dos exemplos mais óbvios do porquê a gente precisa lutar contra a violência do Estado, espalhada pelas milícias fazendo o trabalho do Bolsonaro, odeio até falar esse nome. Todos os nossos corações e mentes estão com os cidadãos de Gaza hoje e ontem, desde 1948. Esse conflito não é novo, é uma guerra de 75 anos de idade, é um sistema de opressão e apartheid imposto ao povo palestino", condenou.

Antes da entrega da medalha, Roger se reuniu com diversas entidades que atuam na área de direitos humanos para ouvir relatos e experiências e conhecer a realidade brasileira. Antônio Neto, da Justiça Global, disse que o Brasil é um dos países mais perigosos para defensores dos direitos humanos.

A deputada estadual Dani Monteiro, presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) lembrou que o Brasil é resultado de séculos de opressão e colonização e que defender os direitos humanos é um ato de resistência e coragem. Já ouvidor de Defensoria Pública do Rio, Guilherme Pimentel, destacou a situação dramática de violência nas favelas e periferias que é produzida através de políticas públicas desastrosas.

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A representante da Redes da Maré, Tainá de Paula Alvarenga, ainda destacou as diversas violações no campo da segurança pública, principalmente no Complexo da Maré, que é composto por 16 favelas e mais de 140 mil moradores. Também falaram Daniel Octaniano, do Observatório de Favelas, Dayana Gusmão da Casa de Resistência, que atende e acolhe mulheres LGBTs, e Lívia Raposo, mãe de Rodrigo Tavares Raposo, morto pela milícia na Baixada Fluminense, que falou pelo movimento de Mães de Vítimas do Estado.

"Todos os dias crianças e adolescentes são mortos. E não são quaisquer crianças e jovens, são pessoas negras e isso é muito sintomático. Nosso país tem um processo de invisibilidade e apagamento dos povos que fazem resistência. A gente tá lutando por memória e justiça", ressaltou Lívia.

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