ESPAÇO

Missão espacial chinesa produz oxigênio sem plantas no espaço através de “fotossíntese artificial”

Além de oxigênio, também foi possível produzir os combustíveis à base de carbono, importantes para a continuidade dos programas espaciais e da autossuficiência no espaço

Shenzhou-19.Créditos: (Xinhua/Liu Fang)
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A missão Shenzhou-19, liderada por Cai Xuzhe e formada pelos taikonautas Song Lingdong e Wang Haoze, à bordo da estação espacial chinesa de Tiangong desde outubro de 2024, informou que foi bem-sucedida na reprodução do processo de fotossíntese direto no espaço.

Com uma série de 12 experimentos realizados na estação espacial chinesa, na órbita da Terra, foi possível reproduzir as etapas fundamentais da produção de oxigênio, usando "semicondutores catalíticos" (catalisadores de reações químicas cuja atividade é ativada pela luz) para converter dióxido de carbono e água em oxigênio, enquanto se produzia, também, etileno, um hidrocarboneto usado na produção de combustíveis líquidos para a propulsão de espaçonaves, de acordo com a agência China Manned Space (CMS), responsável pelo Programa Espacial Tripulado chinês.

Os experimentos, que querem abrir caminho para um pouso tripulado chinês na lua até 2030, focaram na conversão do dióxido de carbono à temperatura ambiente, com o controle de fluxos de gás e líquido em microgravidade, e na “detecção em tempo real dos produtos de reação”. 

São passos essenciais para permitir as condições de sobrevivência a longo prazo no espaço, e permitem simular o processo natural de fotossíntese das plantas verdes com métodos "físicos e químicos" avançados.

Além de oxigênio, também foi possível produzir os combustíveis à base de carbono, importantes para a continuidade dos programas espaciais sem que haja necessidade de envio de novos recursos ou do retorno à Terra para reabastecimento. 

Algumas empresas já se dedicam à implantação de "postos de abastecimento" espaciais, mas o projeto chinês é mais ambicioso: quer gerar o próprio combustível diretamente em "espaços confinados ou atmosferas extraterrestres", como informou a CCTV no último domingo (19).

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Alguns experimentos anteriores na Estação Espacial Internacional (EEI) já haviam tentado reproduzir a fotossíntese no espaço, mas sua tentativa envolvia cultivar plantas no ambiente de microgravidade para que elas realizassem o processo naturalmente. 

O intuito dos experimentos de Shenzhou-19 é, no entanto, realizar uma fotossíntese "artificial" em ambiente extraterrestre, e os estudos para um projeto desse tipo começaram ainda em 2015.

Produzir oxigênio com plantas no espaço é pouco prático no longo prazo, especialmente em missões extensas como seria, por exemplo, uma ida a Marte, porque depende-se, em grande parte, do processo de eletrólise, que “usa a eletricidade dos painéis solares da estação espacial para transformar moléculas de água em hidrogênio e oxigênio”. Para isso, consome-se muita energia.

A tecnologia chinesa, por sua vez, aproveita as condições ambientes, como a temperatura e a pressão atmosférica, e ajusta os catalisadores para transformar moléculas em propelentes de foguete, ou ácido fórmico em açúcares. 

O dispositivo instalado em Tiangong para esse processo "foi projetado para ser atualizado enquanto estiver em órbita, permitindo que os cientistas testem diferentes catalisadores e reações", diz o SCMP. A intenção é produzir as reações em volume suficiente para permitir uma ida mais longa e autossuficiente ao espaço.

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