Uma startup alemã tem trabalhado, desde 2020, em técnicas de conservação de cadáveres baseadas em criogenia (um "banho de gelo" em temperaturas inferiores -150°C, dedicado a diminuir o tempo de deterioração celular, também chamado "bioestase").
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Essa é uma tentativa de dar aos pacientes "uma chance de se beneficiarem da tecnologia futura e potencialmente viverem uma vida mais longa do que é atualmente possível", informa a TomorrowBio, o laboratório europeu que se dedica a essa missão ambiciosa.
É a primeira clínica dessa espécie a surgir na Europa, informa a BBC, e oferece o serviço de conservação ao custo de um "carro esportivo": cerca de 200 mil dólares (165 mil euros, ou 1,2 milhões de reais).
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Até agora, não se sabe ao certo quantos corpos foram submetidos à operação, mas acredita-se que tenham sido três ou quatro humanos e pelo menos cinco animais de estimação.
A lista de interessados, no entanto, é bem maior: cerca de 700 pessoas se inscreveram para passar pela criogenia após a morte, e o laboratório já tem planos de expandir suas operações para os EUA em 2025.
O procedimento é "simples", informa a empresa: quando um paciente quer aderir ao programa, eles "ajudam a colocar a papelada em ordem", garantem que haja um seguro para pagar pelo procedimento e ficam prontos para buscá-lo (com a ambulância laranja da empresa e o pequeno "time de biostase"), quando ele estiver à beira da morte.
Soa macabro, e realmente é.
As pessoas que se inscrevem "no último minuto", isto é, já no seu leito de morte, têm de pagar "tarifas especiais".
O processo de "estabilização" do corpo do "paciente" é feito assim que ele é declarado legalmente morto, e consiste em resfriar o cadáver o mais rápido possível, usando "gelo e água".
Após esse congelamento prévio, o paciente é conectado a um suporte cardiopulmonar (CPS), e recebe uma medicação "neuroprotetora e anticoagulante" responsável por estabilizar seu organismo e ajudar a retardar o processo de degeneração das células.
O processo de crioproteção é mais tecnológico: o sangue do paciente é "substituído lentamente por um líquido crioprotetor", que resfria ainda mais o corpo, mas também o protege contra os efeitos do congelamento.
A próxima fase é o transporte do paciente a um depósito na Suíça, que pode ser feito de ambulância ou avião. Lá ficam localizadas as câmaras de resfriamento, inicialmente operando a -120°C, mas diminuindo cerca de 1°C a cada hora, de forma progressiva, para evitar o "estresse térmico" — o processo só termina ao atingir -196°C.
Por fim, o corpo é posto em uma cápsula cheia de nitrogênio líquido, onde fica "armazenado indefinidamente" — quer dizer, permanece ali até que, um dia, a ciência seja capaz de reanimá-lo, se a tecnologia evoluir a esse ponto.
A cápsula criogênica não usa eletricidade, e o nitrogênio líquido tem de ser reabastecido regularmente pelas equipes ou por um sistema automatizado.
Ninguém jamais foi trazido de volta da criogenia com sucesso.
Mesmo que isso ocorresse, afirmam especialistas, o paciente poderia voltar com danos cerebrais graves, e provavelmente não teria suas estruturas cerebrais restauradas de modo definitivo.