RECURSO TECNOLÓGICO

Argentino usa Inteligência Artificial para ajudar a achar bebês roubados na ditadura

Com base em fotos dos pais, o designer Santiago Barros faz simulações da aparência dos desaparecidos mais de 40 anos depois

O aplicativo tenta ajudar a localizar crianças desaparecidas na ditadura.Créditos: Reprodução/@IAbuelas
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O designer argentino Santiago Barros desenvolveu um projeto no Instagram que recria como seriam bebês roubados por militares durante a ditadura no país (1976-1983). O artista usa Inteligência Artificial (IA) para tentar localizar os desaparecidos.

Com base em fotos dos pais, muitos dos quais também desaparecidos, Santiago faz simulações da aparência dessas pessoas mais de 40 anos depois.

O projeto foi batizado de IAbuelas, junção da sigla IA com a palavra abuelas (avós em espanhola), uma referência às Avós da Praça de Maio, organização de direitos humanos à frente das buscas das crianças desde 1977.

As Avós da Praça de Maio, que já localizaram 132 netos ao longo dos anos, agradeceram a iniciativa. Porém, destacaram que se trata de um projeto artístico, que não oferece uma ferramenta precisa para identificar os filhos dos desaparecidos. O teste de DNA continua sendo o método oficial.

“Nós agradecemos cada ato de solidariedade para acompanhar a busca, mas acreditamos que é importante ressaltar que esta iniciativa não é científica, mas artístico-lúdica”, destacou a organização, em comunicado.

“Até agora, o único método infalível para vincular um neto ou neta à sua família de origem é através do cruzamento genético no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG). Por isso, insistimos que esta conta do IG impressiona pelos rostos que cria, mas que, no entanto, carece de precisão em seus resultados”, esclareceu.

Santiago utiliza a ferramenta MidJourney. Ele combina as fotos das mães e dos pais, obtidas no arquivo público do site Abuelas, e cria como seriam os rostos atuais dos desaparecidos.

“Me pareceu que precisava imaginar esses netos como adultos, que já têm rugas e cabelos grisalhos”, declarou o designer, em entrevista à Reuters.

Para cada combinação, o aplicativo mostra possibilidades de rostos femininos e masculinos, atendendo solicitação do artista para tornar o resultado o mais realista possível.

Apesar de várias imagens terem surpreendido familiares que procuram parentes pela semelhança física, Santiago reconheceu que não é um método preciso.

“É o resultado de múltiplas possibilidades ao combinar duas faces. Não substitui as amostras de DNA nem nenhum dos métodos”, disse.

O perfil está no ar há quase um mês e já publicou mais de 100 posts

Durante o cruel regime militar, em um processo que ficou conhecido como “apropriação”, centenas de crianças sequestradas dos pais ativistas ou nascidas no cativeiro foram entregues a outras famílias.

De acordo com as Avós, ainda há mais de 300 casos não resolvidos. Santiago deseja gerar imagens de todos eles, desde que existam fotografias de ambos os pais das crianças roubadas. O designer já concluiu as simulações das pessoas nascidas em 1976 e, agora, tem publicado os resultados de casos referentes a 1977.

O designer já recebeu inúmeras manifestações de apoio e agradecimento. Oito seguidores chegaram a procurá-lo para relatar que têm dúvidas sobre sua identidade.

Nesses casos, Santiago repassa os contatos das Avós, responsáveis por dar início a uma possível investigação.