QUESTÕES ÉTICAS

A polêmica da IA no Grammy e na propaganda da Volkswagen

As controvérsias recentes sobre o uso da inteligência artificial levantam questões éticas na indústria musical e publicidade

Escrito en TECNOLOGIA el

A indústria musical e a publicidade estão passando por mudanças significativas devido à crescente integração da inteligência artificial (IA). Recentemente, tanto os Prêmios Grammy quanto a Volkswagen anunciaram iniciativas que envolvem o uso dessa tecnologia. Enquanto os Grammy estabeleceram novas diretrizes para lidar com a IA na música, a Volkswagen gerou controvérsias ao utilizar IA para "ressuscitar" a cantora Elis Regina em uma campanha publicitária. Esses acontecimentos têm provocado debates sobre os limites éticos do uso da IA nessas áreas. 

No mês passado, a Academia de Gravação anunciou uma série de mudanças em seus prêmios para se adaptar à evolução da indústria musical, incluindo protocolos relacionados aos avanços tecnológicos em aprendizado de máquina. Uma das diretrizes estabelecidas foi a de que apenas os criadores humanos seriam elegíveis para o prêmio máximo da indústria musical, direcionada ao uso de IA na música popular. Isso levanta a questão sobre a participação da computação inteligente nos Grammy e sua elegibilidade para receber prêmios.

Harvey Mason Jr., diretor executivo e presidente da Academia de Gravação, afirmou que a IA ou músicas que contenham elementos criados por IA são elegíveis para participar e serem consideradas para uma indicação aos Grammy. No entanto, a inteligência artificial não pode receber diretamente um Grammy ou uma indicação. O objetivo é garantir que a tecnologia melhore, aprimore ou adicione algo à criatividade humana, em vez de substituí-la completamente.

As novas diretrizes especificam que se uma IA ou um programa de modelagem de voz interpretar a voz principal de uma música, o trabalho seria elegível na categoria de composição, mas não na de interpretação, já que a interpretação não é uma criação humana. Por outro lado, se uma música for cantada por um ser humano no estúdio, mas a IA escrever a letra ou o tema, a música não poderá entrar nas categorias de composição ou composição de músicas.

Elis Regina e o uso da imagem pós-morte 

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo ético para investigar a propaganda da Volkswagen que utilizou IA para criar um dueto entre Elis Regina, falecida em 1982, e sua filha Maria Rita. Consumidores questionaram a ética do uso da IA para "trazer à vida" uma pessoa falecida e levantaram preocupações sobre a autorização do uso da imagem de Elis pelos herdeiros. A Volkswagen também é questionada por associar a imagem da cantora, uma artista que lutou contra a ditadura militar, a uma empresa que colaborou com o regime. O Conar irá analisar se o uso da IA confundiu o público sobre o que é ficção e realidade, especialmente entre os mais jovens que podem não estar familiarizados com a trajetória de Elis Regina.

A integração da IA na indústria musical e publicitária apresenta benefícios e desafios éticos. Os Prêmios Grammy estão se adaptando à nova realidade e estabelecendo diretrizes para lidar com os sistemas de inteligência na música, enquanto a Volkswagen enfrenta controvérsias com o uso da inteligência artificial em sua campanha publicitária. Esses acontecimentos geram debates sobre a influência da automação inteligente na criatividade humana, os limites éticos do uso da tecnologia e a necessidade de um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a preservação dos valores artísticos e éticos. A discussão em torno dessas questões é fundamental para garantir que a IA seja usada de forma responsável e respeitosa.